7.10.13

Pensões de subvivência

Por Ferreira Fernandes
AO SER homenageado, neste fim de semana, o escritor Mário de Carvalho confessou um desejo: "Nunca perder o espírito de jogar com as palavras." Ótima intenção, vinda de alguém que é mestre nelas. O drama é quando outros malabarismos são feitos com as palavras. A expressão mais badalada deste fim de semana foi "pensões de sobrevivência". Dizer-se, hoje, que uma coisa foi muito falada leva logo à interrogação: e que mal aconteceu às pensões de sobrevivência? Pergunta ociosa porque a resposta é trivial: corte. Preparam-se, pois, pensões de subvivência, isto é, cortes nas pensões de sobrevivência. Somos quase todos leigos em matéria de legislação da Segurança Social, ao contrário do que julgam os artigos dos jornais (que também nos pensam experts em swaps), e ninguém teve a gentileza de começar por nos desembaraçar dos jogos de palavras, os tais com que Mário de Carvalho lida bem, mas que nós passaríamos bem sem eles. Uma coisa é inventar trocadilhos e fazer calembures, outra, sofrê-los na pele. Então, aos pobres dos portugueses, que lutam pela sobrevivência, querem agora cortar-lhes a pensão da dita? Matematicamente, a medida é contraditória: cortando a sobrevivência a sobreviventes, faz, por um lado, menos sobreviventes, mas, por outro, mais sobreviventes daqueles que deixaram de ser sobreviventes. Se calhar dava jeito ler o título de um livro de Mário de Carvalho: Era Bom Que Trocássemos Umas Ideias sobre o Assunto
«DN» de 7 Out 13

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