4.10.13

Ninguém pode dizer que eu não tento...

Por Ferreira Fernandes
A CULPA será minha, admito, mas não ando empolgado. A nossa vida política parece-me uma partida de curling. Estamos condenados a esperar por 2015, quando dois tipos mornos vão disputar quem lança a pedra a deslizar pelo gelo. Não é só aborrecido, é patético. Ontem, Francisco Assis, no jornal Público, dando como inevitável o bocejante espetáculo, anunciou a hipótese de ao bocejo seguir-se um programa com melhores artistas, isto é, as presidenciais com António Costa e Rui Rio. Artistas melhores, é certo, não fora a função presidencial corresponder àquela coisa quase ineficaz que é varrer o gelo, a ver se a pedra desliza lentamente para melhor sítio. A mim, ver sobretudo o Costa agarrado a uma vassoura parece-me um desperdício. 
Como não gosto de inevitabilidades, um dia destes vou a França falar com Maurice Duverger, o constitucionalista francês que inspirou o nosso semipresidencialismo (vocês sabem: quem governa é o Governo, mas o Presidente pode meter o seu pozinho na engrenagem). Duverger vai a caminho dos 100 anos (nasceu em 1917) e serei cauteloso a pô-lo ao corrente das minhas angústias. Antes, dir-lhe-ei que lhe estou muito semiagradecido: não ter hoje um regime presidencialista é uma bênção. Depois, vou lamentar o bocejo a que ele me votou para 2015. Finalmente vou perguntar-lhe: pode ter-se uma Constituição presidencialista só para o mandato a começar em 2016? E, claro, que não entre em vigor antes...
«DN» de 4 Out 13

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