3.10.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
DEPOIS do acto falhado do ministro Miguel Relvas de concessionar a privados a RTP1 e fechar a RTP2, tudo ficou na mesma. Ora, a RTP tem, pelo menos, três problemas de fundo por resolver: 
1. Continua a gastar dinheiro a mais dos contribuintes, 140 a 150 milhões de euros por ano, cerca de 12 milhões por mês pagos por todos os portugueses na taxa de audiovisual; 
2. Os seus espaços informativos, dependendo a sobrevivência da empresa do dinheiro do Estado, são os mais vulneráveis (ainda que possam não ser os mais permeáveis) à governamentalização; 
3. A RTP1 e a RTP2 vêm a sofrer, nos últimos anos, uma hemorragia incessante de audiências que as converteu em canais quase residuais na preferência dos telespectadores, cada vez mais distantes da TVI e da SIC.
O ministro Poiares Maduro, apenas preocupado com o ponto 2., por sinal o menos relevante, veio agora prometer um modelo semelhante ao da BBC com um órgão de supervisão independente não nomeado pelo Governo – o que pouco ou nada resolve dos problemas estruturais da RTP.
E o presidente da empresa, Alberto da Ponte, focado sobretudo no ponto 1., acha que os 150 milhões não chegam, exige mais 20 milhões de euros para 2014 e – espanto dos espantos – fez mesmo um ultimato ao Governo para responder, «com a data limite de 20 de Setembro», que passou sem resposta. Já quanto ao ponto 3., um encontro de quadros e responsáveis da empresa descobriu há uma semana, ao que veio a público, com base num estudo de consultores, que a RTP tem que «deixar de ser um canal cinzento, sem brilho, sem cor e sem novidades» e, melhor ainda, que «serviço público é dar às pessoas o que elas querem» – o que coloca a SIC e a TVI, com os seus reality shows e overdoses de telenovelas, como os melhores canais de serviço público. Com a RTP no seu encalço…
Poiares Maduro parece ainda disposto a colocar a RTP Informação (e talvez, a RTP Memória) disponível na TDT. Recorde-se que o Programa deste Governo previa «a privatização de um dos canais públicos da RTP», que ficaria apenas com um canal generalista. Afinal, no fim de toda esta história, a RTP ainda pode vir a ter três ou quatro canais em sinal aberto. Eis o crédito que merece um Programa de Governo. 
«SOL» de 27 Set 13

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2 Comments:

Blogger Carlos Esperança said...

Quando vejo muito entusiasmo na alienação dos canais públicos temo os interesses privados.

3 de outubro de 2013 às 17:57  
Blogger Agostinho said...

Bestial! Convém que o diferente se converta aos superiores interesses da uniformização cultural do povo. Rasteirinho é que ele se quer, Senhores!
Nem o diabo se lembraria de pintar a RTP com as cores da concorrência.
Há sempre soluções mas quando toca a fazer as ideias geniais passam a idiotices.O ministro Relvas foi o que se viu, o ministro Maduro vinha cheio de gás mas tem-se visto sempre a descer, para poupar energia.

Melhor seria cessar toda a produção própria e encomendar-se toda a programação à TVI e à SIC para retransmitir, democraticamente, pelos emissores da RTP Esta passaria a designar-se TVISICA.
Todos ficavam a ganhar: a RTP poupava milhões, a SIC e a TVI ficavam com um balurdio da venda dos programas e da publicidade, a dividir irmãmente.
Idiotice perfeita, que poderá vir a acontecer. Depende apenas da localização otimizada do anticiclone dos Açores.

3 de outubro de 2013 às 23:36  

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