Oh, o anjo loiro afinal era cigano (2)
Por Ferreira Fernandes
Alguns leitores contestaram o título da crónica de ontem, "Oh, o anjo loiro afinal era cigano...", lembrando-me que a menina aparecida na Grécia não "era" cigana, "é" cigana. Ora não foi descaso da minha parte, foi mesmo essa a ideia central da crónica: é irrelevante Maria ser cigana. Como, aliás, não o ser. Alguns, quando viram a menina loira entre pais de pele morena, logo embalaram para a hipótese de estar ali a prova do secular mito de roubo de crianças por ciganos - e, com o mistério de Maddie ainda a pairar, o interesse por Maria explodiu. Outros, depois de se saber que Maria era mesmo filha de ciganos (não dos primeiros, gregos, mas de búlgaros), aproveitaram para denunciar os habituais ataques ao modo de vida dos ciganos. Entre tornar-se esperança de outras crianças serem encontradas e ser pretexto para se provar que os seus são perseguidos, Maria mais uma vez foi desapossada de ser vista como uma pessoa com direitos. Mais uma vez ela não pôde ser simplesmente Maria. Ontem (hoje limito-me a repetir) eu escrevi que ela é a protagonista de uma história em que o resto é irrelevante até que nos convençamos todos desta lei: cigana ou não, é inadmissível que uma criança seja vendida. Logo, o essencial é ela, Maria. Dito isto, podemos passar a ela ser mais do que ela. Maria não devia levar-nos a interessar pelas crianças (ciganas ou não) que mendigam nos cruzamentos das nossas cidades? Trabalham para quem?
«DN» de 28 Out 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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