8.1.14

Grátis ou não, há almoços intragáveis

Por Ferreira Fernandes
Há dias, no DN, João César das Neves fez o que chamou um "elogio da migração". Claro que partir e receber, emigrar e imigrar, merece elogios. Só ignorantes não reconhecem que viemos todos do Corno de África, filhos de Lucy. Neto, filho e pai de gente que partiu, nem preciso de procurar tão longe - aliás, eu próprio tenho três países na vida. Mas o partir - exceto, claro, para os cavaleiros andantes e gentes de posses e poderes (sim, ambas as condições, pois na história recente da Europa tivemos ricos que não puderam viajar) - partir, dizia, leva consigo alguma ou muita dor, a suficiente para respeitar o tema. João César das Neves não respeitou. Antes de entrar a matar diz que tem em conta a dor, mas não tem. "A sua saída [dos novos emigrantes] manifesta que, devido à crise, agora não são cá necessários. A causa é lamentável, mas o facto é evidente. Dadas as circunstâncias é bom, para eles e para todos, que procurem ocupação noutras paragens. Quando o nosso desenvolvimento necessitar do seu contributo eles, ou outros, farão o movimento inverso", escreveu ele. Enxota-se agora ("não são cá necessários") e deixa-se voltar quando der jeito "ao nosso desenvolvimento". 
Eles e nós. O professor deve ter leis económicas para defender essas palavras. Seja. Mas elas não deixam de ser despudoradas. Há uns e há outros. Os "nossos" e "eles". Estes últimos tão desprezíveis que o professor arruma-os assim, caso voltem: "eles, ou outros"...
«DN» de 8 Jan 14

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