Molière já comentou o nosso Paulo Rangel
Por Ferreira Fernandes
Na comédia O Burguês Fidalgo, Molière criou uma personagem, Monsieur Jourdain, que sendo burguês não podia ser fidalgo. Já entradote, e por amor, que é a mais louvável razão para um homem perder a cabeça, Monsieur Jourdain, pretendendo parecer coisas para as quais não nasceu, faz vários cursos intensivos em fidalguia. Aprende dança e esgrima, e, com um professor de filosofia, dá-se conta até disto: "Vejam lá, há mais de quarenta anos que eu faço prosa e não o sabia!" Mais de três séculos depois, essa continua a ser uma das mais famosas frases do teatro. Talvez não chegue tão longe, mas a frase que Paulo Rangel disse ontem ao Expresso também é boa: "Os 101 dálmatas saiu-me por acaso." Quer dizer, um pouco como Monsieur Jourdain, Rangel faz slogans publicitários e não o sabia. Na apresentação do programa da sua candidatura, viu que eram 101 propostas e lembrou-se do filme da Disney. "Não foi pensado nem é marketing", garantiu. É [o]que eu digo, foi como a prosa do outro, saiu-lhe. Com um efeito perverso, porém. Monsieur Jourdain era um honesto comerciante e a sua deriva para a fidalguia foi um fracasso. Já a aventura publicitária de Paulo Rangel foi um sucesso tremendo: toda a gente falou dos dálmatas. Em contrapartida, as suas 101 propostas políticas, vindas de um dos nossos mais talentosos políticos, como é Rangel, foram uma desilusão. O raio do Molière tinha mesmo razão: quando um tipo é bom não deve pôr-se a variar.
«DN» de 11 Mar 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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