O homem que punha o Presidente no bolso
Por Ferreira Fernandes
O
primeiro-ministro Balsemão e o Presidente Eanes desconfiavam tanto um
do outro que nas reuniões que tinham a sós traziam, cada um, o seu
gravador. Punham os aparelhos em cima da mesa, a falta de confiança era
sincera. Uma birra, comparada com o exemplo indecoroso que nos chega de
França. Para as presidenciais de 2007, Nicolas Sarkozy recrutou Patrick
Buisson, um intelectual, antigo jornalista de extrema-direita.
Monárquico e católico, Buisson passou a ser a eminência parda do Eliseu,
função que exercia com soberba - fez questão em não ter cargos
oficiais, nem gabinete no palácio. Influenciar o "rei" chegava-lhe.
Quando foi condecorado com a Legião de Honra, Sarkozy disse: "A ele devo
ter sido eleito." Durante o mandato suspeitava-se que ele era o
conselheiro decisivo nas políticas e nas remodelações. Suspeitava-se.
Hoje, sabe-se. É que a forma altaneira de Patrick Buisson exercer a sua
influência era acompanhada por um vício. No bolso do casaco, escondido,
levava um gravador. Horas e horas de conversa, a que nem escapava Carla
Bruni quando ia buscar o marido às reuniões. Ontem essas gravações
deslizaram para os jornais (parece que um conflito familiar fez Buisson
perder o controlo do seu material). O que foi publicado chega para
provar o abuso, traição até, a que foi sujeito o Presidente. E a França
pergunta-se: até que ponto se gravou? A resposta não é moral, é mais
simples: gravado, hoje, fica tudo.
«DN» de 6 Mar 14 Etiquetas: autor convidado, F.F
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