«Dito & Feito»
Por J. A. Lima
Não é prática habitual os ex-líderes aparecerem nos congressos
partidários e, menos ainda, irem lá fazer intervenções políticas. Nem
sequer nos congressos do PSD, que por vezes nos reservam inesperadas
surpresas, tem sido esse o hábito. Em regra, os ex-líderes coíbem-se de
se intrometer num palco que deve pertencer ao líder em exercício. Não
foi isso, no entanto, o que aconteceu nesta reunião, que se esperava
previsível e pacata, do PSD no Coliseu de Lisboa.
Quando passos
Coelho tratava tranquilamente da sua renovação na continuidade, eis que
começam a surgir ex-líder atrás de ex-líder do PSD, revezando-se na
ocupação das cadeiras ao lado da sua. «Havia uma série de pessoas que
não eram para vir, o aniversariante julgava que não vinham e, de
repente, começou a aparecer tudo», descrevia, divertido e entre muitos
risos da plateia, Santana Lopes, precisamente um dos ex-líderes que não
resistiram ao apelo das «razões afectivas» para ir ao Coliseu.
E,
além de aparecerem sem aviso prévio, quase todos fizeram questão de
subir ao palco e falar sem limites de tempo. Só Marques Mendes não
discursou. Luís Filipe Menezes, numa penosa explanação, dedicou-se à
minuciosa autópsia da sua própria derrota autárquica no Porto. Santana
Lopes interveio para comprovar que continua «a andar por aí» e que era
bom não o esquecerem. Mas quem arrebatou os congressistas e pôs a sala a
aplaudir de pé foi Marcelo Rebelo de Sousa.
Desfiando histórias e
memórias dos seus 40 anos de militância no partido, irónico e de
improviso, despertando risos e emoções, desarmando as vozes e sectores
que convivem mal com a liberdade de criticar, lançando algumas farpas ao
CDS e reparos paternais a Passos, Marcelo tornou-se a estrela deste
Congresso. Depois de se ter deixado condicionar em excesso pelo
parágrafo do «catavento» da moção de Passos Coelho, voltou a ganhar
espaço de manobra política para as presidenciais. Se quiser, tem o
partido a seus pés. Volta a depender apenas de si próprio e da sua
vontade.
Por seu lado, Passos Coelho que terá pensado surpreender e
marcar o Congresso com a improvável ressurreição de Miguel Relvas
viu-se completamente ultrapassado. Pelo 'furacão Marcelo' e restantes
ex-líderes.
«SOL» de 28 Fev 14 Etiquetas: autor convidado, JAL
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