4.3.14

«Dito & Feito»

Por J. A. Lima
Não é prática habitual os ex-líderes aparecerem nos congressos partidários e, menos ainda, irem lá fazer intervenções políticas. Nem sequer nos congressos do PSD, que por vezes nos reservam inesperadas surpresas, tem sido esse o hábito. Em regra, os ex-líderes coíbem-se de se intrometer num palco que deve pertencer ao líder em exercício. Não foi isso, no entanto, o que aconteceu nesta reunião, que se esperava previsível e pacata, do PSD no Coliseu de Lisboa.
Quando passos Coelho tratava tranquilamente da sua renovação na continuidade, eis que começam a surgir ex-líder atrás de ex-líder do PSD, revezando-se na ocupação das cadeiras ao lado da sua. «Havia uma série de pessoas que não eram para vir, o aniversariante julgava que não vinham e, de repente, começou a aparecer tudo», descrevia, divertido e entre muitos risos da plateia, Santana Lopes, precisamente um dos ex-líderes que não resistiram ao apelo das «razões afectivas» para ir ao Coliseu.
E, além de aparecerem sem aviso prévio, quase todos fizeram questão de subir ao palco e falar sem limites de tempo. Só Marques Mendes não discursou. Luís Filipe Menezes, numa penosa explanação, dedicou-se à minuciosa autópsia da sua própria derrota autárquica no Porto. Santana Lopes interveio para comprovar que continua «a andar por aí» e que era bom não o esquecerem. Mas quem arrebatou os congressistas e pôs a sala a aplaudir de pé foi Marcelo Rebelo de Sousa.
Desfiando histórias e memórias dos seus 40 anos de militância no partido, irónico e de improviso, despertando risos e emoções, desarmando as vozes e sectores que convivem mal com a liberdade de criticar, lançando algumas farpas ao CDS e reparos paternais a Passos, Marcelo tornou-se a estrela deste Congresso. Depois de se ter deixado condicionar em excesso pelo parágrafo do «catavento» da moção de Passos Coelho, voltou a ganhar espaço de manobra política para as presidenciais. Se quiser, tem o partido a seus pés. Volta a depender apenas de si próprio e da sua vontade.
Por seu lado, Passos Coelho que terá pensado surpreender e marcar o Congresso com a improvável ressurreição de Miguel Relvas viu-se completamente ultrapassado. Pelo 'furacão Marcelo' e restantes ex-líderes.
«SOL» de 28 Fev 14

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