Socialismo de mão estendida
Por Baptista-Bastos
Não
é preciso cansar os olhos e as meninges para se perceber que o
"socialismo moderno" é uma monstruosidade prescrita. Tony Blair, que
deveria estar na cadeia, por crimes de felonia e alta traição, foi
cúmplice, com W. Bush e Aznar, da criminosa invasão do Iraque, decisão
tomada, definitivamente, nos Açores, com o pobre Durão Barroso a servir
de mordomo desavergonhado. Guterres era dado ao Blair. Fugiu,
espavorido, de um Portugal pantanoso para um lugar qualquer coisa de
apoio aos refugiados. Coitado! Tony Blair, riquíssimo, anda por aí a
bacorar sobre a democracia no mundo, auferindo milhões pelas gastas
palavras. Como ensinou Castoriadis, e, mais atrás, o filósofo Kant, "não
há terceiras vias", nem no pensamento nem na política. Há, sim,
desenvolvimentos justificados pela própria natureza do conflito, pela
incerteza e pelo inacabamento problemático das soluções.
O
descalabro dos partidos "socialistas", por essa Europa fora, foi
analisado, há dois anos, em A Crise da Esquerda Europeia, um ensaio
indispensável de Alfredo Barroso, para se compreender as origens do mal e
as suas terríveis consequências.
O que se passou em França, com
François Hollande, triste vassalo da senhora Merkel e invertebrado
seguidor do neoliberalismo, constitui a imagem reenviada do que acontece
em Portugal, com o socialismo arquejante de António José Seguro. Em
França, a extrema-direita avança impetuosamente; em Portugal, as
sondagens apontam, misericordiosamente, para um "empate técnico" entre o
PS e o PSD.
Passos Coelho pode, muito bem, desenvolver, sem
obstáculos de maior, a estratégia de destruição do "Estado social." O
sentido subjectivo das condições actuais é indissociável do sentido da
acção política. E ele apercebeu-se, muito cedo, das fragilidades
ideológicas de Seguro. De facto que diferença fazem, entre si, a não ser
na retórica, Passos e Seguro? A "divergência insanável" é uma imposição
de poder ou uma consideração efectiva de escolhas racionais? Até hoje,
não se sabe no que consiste essa "divergência insanável". E é só uma?
As
coisas possuem um sentido menos oculto do que aparentam. Mesmo que
Passos perca as eleições, qual o plano de Seguro? Os indícios e as
indicações estão aí. O significado dos acontecimentos não tem auferido,
de quem ainda sabe pensar, as explicações necessárias que reflictam a
actual dimensão assustadora da nossa época e do nosso mundo. A Europa
tem sido o instrumento experimental de uma estratégia global de domínio
por um só país: a Alemanha, que não conseguiu, com duas guerras,
alcançar a expansão de agora, através das capitulações de quem devia
colocar-se na primeira linha da resistência.
«DN» de 26 Mar 14 Etiquetas: BB
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