26.3.14

Socialismo de mão estendida

Por Baptista-Bastos
Não é preciso cansar os olhos e as meninges para se perceber que o "socialismo moderno" é uma monstruosidade prescrita. Tony Blair, que deveria estar na cadeia, por crimes de felonia e alta traição, foi cúmplice, com W. Bush e Aznar, da criminosa invasão do Iraque, decisão tomada, definitivamente, nos Açores, com o pobre Durão Barroso a servir de mordomo desavergonhado. Guterres era dado ao Blair. Fugiu, espavorido, de um Portugal pantanoso para um lugar qualquer coisa de apoio aos refugiados. Coitado! Tony Blair, riquíssimo, anda por aí a bacorar sobre a democracia no mundo, auferindo milhões pelas gastas palavras. Como ensinou Castoriadis, e, mais atrás, o filósofo Kant, "não há terceiras vias", nem no pensamento nem na política. Há, sim, desenvolvimentos justificados pela própria natureza do conflito, pela incerteza e pelo inacabamento problemático das soluções.
O descalabro dos partidos "socialistas", por essa Europa fora, foi analisado, há dois anos, em A Crise da Esquerda Europeia, um ensaio indispensável de Alfredo Barroso, para se compreender as origens do mal e as suas terríveis consequências.
O que se passou em França, com François Hollande, triste vassalo da senhora Merkel e invertebrado seguidor do neoliberalismo, constitui a imagem reenviada do que acontece em Portugal, com o socialismo arquejante de António José Seguro. Em França, a extrema-direita avança impetuosamente; em Portugal, as sondagens apontam, misericordiosamente, para um "empate técnico" entre o PS e o PSD.
Passos Coelho pode, muito bem, desenvolver, sem obstáculos de maior, a estratégia de destruição do "Estado social." O sentido subjectivo das condições actuais é indissociável do sentido da acção política. E ele apercebeu-se, muito cedo, das fragilidades ideológicas de Seguro. De facto que diferença fazem, entre si, a não ser na retórica, Passos e Seguro? A "divergência insanável" é uma imposição de poder ou uma consideração efectiva de escolhas racionais? Até hoje, não se sabe no que consiste essa "divergência insanável". E é só uma?
As coisas possuem um sentido menos oculto do que aparentam. Mesmo que Passos perca as eleições, qual o plano de Seguro? Os indícios e as indicações estão aí. O significado dos acontecimentos não tem auferido, de quem ainda sabe pensar, as explicações necessárias que reflictam a actual dimensão assustadora da nossa época e do nosso mundo. A Europa tem sido o instrumento experimental de uma estratégia global de domínio por um só país: a Alemanha, que não conseguiu, com duas guerras, alcançar a expansão de agora, através das capitulações de quem devia colocar-se na primeira linha da resistência. 
«DN» de 26 Mar 14

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