Diz o escondido: viva a transparência!
Por Ferreira Fernandes
Devem ser poucas situações mais paradoxais do que anónimos, e militantes do anonimato, armarem-se em campeões da transparência. Agora foram hackers, quer dizer indivíduos devotados a destapar moradas e telefones dos outros enquanto varrem as pegadas que deixam pelos seus labirínticos caminhos. Tudo se deve saber, a informação é uma arma, viva a transparência - proclamam eles. E, enquanto isso, apagam-se... Deveria dar só para sorrir, como se deve fazer perante os heróis falsos e desorientados. No entanto, é um fenómeno que merece mais atenção. O sucesso que causa qualquer estrebuchar em nome da transparência, sobretudo nas chamadas redes sociais (Facebook, Twitter, caixas de comentários dos jornais), já de si é um caso social. Acrescido à violência virtual, notória nos comentários que suscita e que naturalmente aumenta com o convencimento de se falar escondido, diz-nos que estamos perante uma doença mental coletiva demasiado espalhada. Enquanto os denunciados pertencem a alguma categoria que se pode classificar de privilegiada (políticos, ricos...), ainda se pode catalogar os fãs destas denúncias em meros invejosos sociais. Quando a denúncia atinge funcionários de Justiça e se torna tão popular é caso para ficar espantado. Como é que a maluquice do "tudo se deve saber" é tão vasta? Como se é tão estúpido para engolir o truque de meia dúzia de miúdos com borbulhas? Este último sintoma, a estupidez, é o mais preocupante.
«DN» de 28 Abr 14 Etiquetas: autor convidado, F.F
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