«Dito & Feito»
Por J. António Lima
Falta apenas um mês e um dia para os portugueses serem chamados a votar
nas eleições europeias. E se há dois resultados facilmente previsíveis -
uma abstenção acima dos 60% (é assim, em europeias, desde há 20 anos,
nas últimas quatro eleições) e uma vitória do PS - já a amplitude e a
margem do triunfo socialista podem surpreender muitos. E obrigar a uma
sensível alteração do discurso político a partir do próximo dia 26 de
Maio.
Já se sabe que os eleitorados aproveitam muitas vezes as
eleições europeias para mostrarem o seu desagrado aos governos em
funções. E Portugal não tem sido excepção: foi assim com Sócrates em
2009 (perdeu com uns quase humilhantes 26,5%), com a dupla
Barroso/Portas em 2004 (minguaram, em coligação, para 33,3% e ficaram a
mais de 11 pontos do PS) e até com Cavaco Silva (que, em 1989 e 1994,
viu fugirem-lhe nas europeias 15 a 20 pontos das maiorias absolutas que
ia alcançando nas legislativas).
Ora, é de esperar que seja de
igual ou ainda maior dimensão a punição eleitoral da coligação PSD/CDS
após três anos de austeridade, troika, cortes e empobrecimento
generalizado. E que António José Seguro, não obstante a frouxidão e
inconsistência política da sua liderança, leve o PS claramente acima dos
40% de votos, deixando a dupla Passos Coelho/Paulo Portas no limiar dos
30%, a mais de 10 pontos de distância.
Se for este, como é muito
provável, o resultado da noite de 25 de Maio, regressará com estrondo o
cenário de uma possível maioria absoluta do PS nas legislativas de 2015.
Obrigando a uma rápida revisão do tão repetido discurso do “obrigatório
entendimento alargado” entre PSD, PS e CDS, do “amplo consenso” e do
inevitável “bloco central, aberto ou disfarçado” pós-legislativas, que
vem sendo feito pela generalidade dos comentadores políticos, passando
até pelo Presidente da República e pelo presidente da Comissão Europeia.
Ou
seja: o PS, mesmo com Seguro, poderá chegar à maioria absoluta e
dispensar mais amplos consensos. Já o PSD e o CDS poderão ter que
repensar as vantagens (e as desvantagens) de perderem as legislativas de
2015 sozinhos... ou coligados.
«SOL» de 24 Abr 14 Etiquetas: autor convidado, JAL
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home