Não é tempo de boa gente sentir?
Por Ferreira Fernandes
Meriam Ibrahim já pode ser enforcada. Na sua infinita misericórdia, as autoridades sudanesas esperaram que ela parisse, o que aconteceu há dias, para poderem prosseguir, enfim, com a justiça. A justiça islâmica ditara que Meriam devia morrer por ter abandonado a religião islâmica e insistir em ser cristã. As autoridades dizem que ela, filha de muçulmano, é muçulmana. Pode dizer-se: fraco entendimento têm as autoridades sudaneses sobre a fé de um indivíduo para depositar a fé dele no acaso da fé de outro. Mas, para já, não se trata de um indivíduo, como já devem ter-se dado conta com a notícia do parto. É uma indivídua. Se vamos começar a discutir o livre arbítrio de uma indivídua... Num truque de advogados, Meriam diz que nunca foi muçulmana, que o pai, sim, mas abandonou-a e ela foi educada na fé cristã da sua mãe etíope. Uma coisa engraçada com todas as inquisições é porem as vítimas a sentir-se obrigadas a desculpas tolas. Um juiz barbudo diz "tu tens de te coçar porque o teu pai teve comichão" e em vez de se poder responder "meritíssimo, vá dar banho ao cão", uma Meriam tem de se justificar... Se fosse do Cascalhense FC e os sócios do meu clube, em nome do meu clube, tratassem assim uma transeunte, eu andaria com a foto desta ao peito. Como os juízes do Sudão são homens, digo aqui, para me limpar de tal companhia, que Meriam é das minhas. Não haverá em Portugal quem, até mais próximo dos juízes do Sudão, faça o mesmo?
«DN» de 31 Mai 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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