Palavra importante e útil como o não
Por Ferreira Fernandes
Logo a seguir aos atentados de Londres, em 2005, embarquei para lá. Fui ter com a minha filha que passara por King"s Cross, o cruzamento de onde saíram os três comboios e telefonou--me entre essas explosões e a do autocarro que saindo dali explodiria a seguir. Nem esses comboios nem o autocarro tinham itinerários que poderiam ser o dela - mas tangentes a tragédias nunca descartam o pior. O assunto que há anos era o meu, moral e político, passou a ser também pessoal. Alicerçou-se em mim uma palavra que eu via desaparecer à volta. Era palavra mais do que abolida, estava esquecida. Por esses dias, passeando por Hyde Park, no Speakers' Corner, onde se sobe a caixotes e fala-se de tudo, vi a complacência com que os londrinos ouviram um barbudo defender e aplaudir os atentados. Percebi que também eles tinham esquecido a palavra. Esquecer, porque já a tinham conhecido e, por exemplo, proibiram a British Union of Fascists e prenderam o líder, Oswald Mosley, em 1940, na guerra. Ontem, vi garotas negras com um pano de fundo de muito pano. Eram parte daquelas 276 nigerianas, entre os 12 e 18 anos, raptadas há semanas pelo terror islâmico. Os terroristas disseram que elas já estavam islamizadas e uma das garotas quando confirmava isso à câmara lançou um olhar fugidio e medroso para alguém que estava para lá dela. Eu sei quem estava. Estava lá a palavra que a civilização esqueceu e não devia. Essa palavra: inimigo. É, existe e há que sabê-lo.
«DN» de 13 Mai 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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