9.5.14

A mulher barbuda no Circo da Eurovisão

Por Ferreira Fernandes 
Adriana Calcanhotto tem uma canção que abre a assim: "O que será que sonha/ A mulher barbada? Será que no sonho ela salta/ Como a trapezista?" E Calcanhotto continua com outras profissões de circo e sonhos dos palhaços e dos domadores, para voltar à dúvida: o que será que sonha a mulher barbuda? A cantora não responde. Eu sim: a mulher barbuda sonha em não ter barba. Se sonhar que tem, não é sonho, é pesadelo. Hoje ainda é pior do que nos tempos das mulheres barbudas, dos anões e dos homens-torso: antes ainda arranjavam emprego no circo. Mas o Cirque du Soleil, se hoje passasse por Copenhaga e expusesse uma mulher barbuda, teria uma manifestação à porta. Sim, dá emprego mas é indigno expor mulheres barbudas, mesmo se elas aceitam. Dir-se-ia, então, que a manifestação era progressista. Mas se amanhã uma manifestação protestar, à porta do Festival da Eurovisão da Canção, em Copenhaga, contra a exploração da concorrente austríaca Conchita Wurst, travesti que se apresenta como mulher barbuda, com belo vestido e barba cerrada, os manifestantes serão chamados de reacionários. É certo que Conchita está lá porque quer e para sacar o dela, mas não era o mesmo verdade com as mulheres barbudas dos circos de antanho? Então, qual a diferença? Suspeito que o truque é este: envolve-te em lantejoulas e ideias fraturantes e aceitam-te as causas mais absurdas. O lançamento de anões só foi proibido porque não foram usados anões ecologistas. 
«DN» de 9 Mai 14  - imagem obtida [aqui]

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