O terrorista que falou como terrorista
Por Ferreira Fernandes
Ontem, enfim, chegou-nos alguma esperança do drama das alunas nigerianas raptadas. Sabe-se, a 14 de abril, o grupo terrorista islâmico Boko Haram entrou numa escola cristã, meteu em camiões 276 meninas entre os 12 e os 18 anos e levou-as para as regiões que controla. Algumas das meninas conseguiram escapar mas julga-se que há ainda um pouco mais de 220 presas. Ontem, e é a primeira boa notícia deste drama, Abubakar Shekau, chefe do Boko Haram, divulgou um vídeo endereçado aos pais das liceais, a quem disse: "Eu raptei as vossas filhas e vou vendê-las no mercado em nome de Alá." E acrescentou: "E as que não forem vendidas serão nossas escravas." Evidentemente, o destino das meninas é abominável e o que os pais vivem é um horror. Mas eu falo das palavras ditas, que foram as certas. No dia do rapto, o Boko Haram pôs uma bomba que matou 75 pessoas - mas as bombas, por mais que matem, acabam por ser consideradas inevitabilidades nas guerras (sobretudo civis) e, se não desculpadas, são esquecidas. Também as ideologias, só por serem imbecis - por exemplo, o nome Boko Haram quer dizer "a educação ocidental é pecado" - não bastam para impressionar mal os povos. Agora, as palavras substantivas que Abubakar Shekau disse, essas, são benditas. Todos os homens maus deveriam falar assim, claro. Infelizmente, o que quase todos eles primeiro aprendem é a esconder-se atrás de discursos enganadores.
«DN» de 6 Mai 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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