5.5.14

Análise semântica da saída limpa

Por Ferreira Fernandes 
Eu desde que vi os juros a subir que nem carrascos porque sim e os vi a descer com gentileza porque sim, decidi que não. Não mando bitaites sobre finanças e não ouço os sábios. Já sei o que já sabia, que sou nulo na matéria, mas sei também agora, de experiência feita, que não estou sozinho. Quando vou ao casino também não me ponho a discutir com o croupier por ter saído cinco vezes seguidas o preto. Encolho os ombros. Ou melhor, não os frequento porque fico sempre a perder. Infelizmente, pelos vistos, nem de todos os casinos posso escapar. Saída limpa? Ok. Se o primeiro-ministro o diz: "Depois de uma profunda ponderação de todos os prós e contras, concluímos que esta é a escolha certa na altura certa", Ok. Embora, depois de tanta ponderação e medições, se aceito a "escolha certa" - foi aquela, limpa, mas, como já disse, se fosse a cautelar também aceitava -, se entendo a escolha, faz-me espécie a "altura certa". Havia alternativa ao tempo de saída? Podíamos sair noutra altura? Há um mês? Daqui a um ano e 23 dias? E os nossos parceiros europeus - que, segundo o nosso primeiro-ministro, apoiariam a nossa escolha "de forma inequívoca fosse qual fosse a opção que viéssemos a tomar" - se disséssemos "eh, pá, afinal a malta não sai!", também seriam apoiantes e inequívocos? Desculpem-me a agarrar-me a deslizes de linguagem mas conversa é a única coisa palpável nesta história. Sobre estados de alma, como finanças, não perco tempo. 
«DN» de 5 Mai 14

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