Veiga Simão, tentar servir dois senhores
Por Ferreira Fernandes
Não me desagradam por princípio os homens para todas as estações, que servem este e aquele regime. Seria deselegante para demasiada gente que no Estádio de Alvalade ovacionou Marcelo Caetano, semanas antes de encher a Almirante Reis no 1º de Maio de 1974... Ontem morreu Veiga Simão, o último ministro da Educação de Marcelo e ministro da Defesa na democracia. O filme A Man for All Seasons, de 1966, era sobre Thomas More, o chanceler do Reino de Henrique VIII, de Inglaterra. Parecendo defender o oportunismo, o título ("um homem para todas as estações") desvirtua a moral bíblica do filme: não se pode servir dois senhores. More, que tentou conciliar a fé católica e a lealdade ao rei, acabaria decapitado à ordem de Henrique VIII. Veiga Simão, cuja fé na Universidade o levou a ser ministro da Educação no estertor de um regime ditatorial, teve a sorte de não ser vítima da sua tentativa, sobreviveu politicamente. Mas não sorte completa, porque ficou com o justo labéu de ser o ministro da Educação de um mau Governo num período em que os estudantes universitários eram dos mais ativos oposicionistas. No entanto, Veiga Simão, inteligente e culto, se foi homem de todas as estações, não o foi de apeadeiros, não foi um fura-bolos. A Universidade Eduardo Mondlane reconheceria isso fazendo doutor honoris causa aquele que fora o pai da Universidade de Lourenço Marques. Igualmente o Portugal democrático soube recuperá-lo. E ele tentou servir.
«DN» de 4 Mai 14Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
A inteligência pode servir boas causas, de donos diferentes com objectivos opostos.
Fui prof. em regimes diferentes e sempre com a maior dedicação.
Não havia necessidade de engajamento político para o poder ser, uma vantagem...que bem usada podia depositar uma "bomba" em cada um, ludibriando o dono...
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