Visita ao país que luta rebaixando-se
Por Ferreira Fernandes
Estrangeiro que chegue a aeroporto português recebe um papel. Quem lho dá tem colete, onde, em letras pequenas, se diz "sindicato nacional da" e, em letras grandes, "POLÍCIA". "Já tenho multa?", espanta-se o visitante. Mas não, o do papel não é uma autoridade. É alguém que está ali para precisamente desautorizar-se: sou autoridade, mas pouco. Diz o papel:
1) "Os agentes da PSP estão desmotivados", e
2) "Um trabalhador desmotivado não produz tanto como um trabalhador motivado".
Estranha forma de luta! Se não entendem a minha exclamação, prossigo o absurdo. No táxi, o motorista ainda antes de se meter à estrada diz ao turista: "Ganho pouco, nem me apetece parar no próximo sinal vermelho. Não estou motivado..."
O turista vai ao restaurante e o cozinheiro avisa-o: "Se fosse a si não escolhia o cherne. Não me deu gostinho nenhum cozê-lo."
Na casa de fados, a fadista puxa o xaile com fastio, encolhe os ombros ao guitarrista e anuncia que não cantará até que a voz lhe doa: "Aliás, só canto um fado e mesmo esse a despachar."
À saída, o turista é assaltado e confirma o papelucho do aeroporto. "Senhor guarda, fui assaltado!", e o polícia, encostado à parede e a cortar as unhas, toma conta da ocorrência assim: "E foi muito assaltado?"
Ao visitante deste país desmotivado só lhe apetece ir embora. Mas não vai. O que agora ele mais teme é ver, ao entrar no avião, o piloto surpreso: "Você aceita mesmo voar com um piloto como eu?!"
«DN» de 21 Mai 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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