19.5.14

Seguro não aumentará impostos

Por Ferreira Fernandes 
O cronista brasileiro Luis Fernando Veríssimo diz que as mensagens estão cada vez mais explícitas mas cada vez mais sem sentido. Paulina, mulher antiga, explicava à neta o código sexual do sinalzinho, aquele ponto que se punha e tirava na cara das moças: no lábio queria dizer uma coisa, no queixo outra... Os cavalheiros sabiam ler o sinal, podiam contar com ele. E a neta de Paulina explicava à sua própria neta os significados do leque: a abanar dizia isto, a esconder os olhos, aquilo... Sinais que os potenciais noivos entendiam. Já a neta da neta de Paulina andava na rua com uma T-shirt e a moça dizia que não, aquelas letras no peito, "Me Come", não queriam dizer nada, eram só letras. É, cada vez se diz mais claramente o que não quer dizer nada. Em plena campanha europeia, António José Seguro vestiu uma T-shirt (alô, gente simples, ele não vestiu nada, é só uma imagem, tá?), dizendo (alô, ele disse mesmo, tá?): "Não aumentaremos os impostos." Quatro palavrinhas, não podia ser mais claro. Seguro não aumentará os impostos. Claríssimo. E, no entanto, a frase limpa e cristalina não quer dizer nada. Sobretudo aos portugueses, a quem um Passos já lhes ensinou a vacuidade de uma frase dessas num Portugal destes tempos. Então, a frase de Seguro não significa nada? Significa, mas temos de procurar algures. A da neta da neta de Paulina, é que a garota é fingida. A de Seguro, é que a Europa para ele é o elétrico para São Bento, e só.
«DN» de 19 Mai 14

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