País em pânico com a vaca jihadista
Por Ferreira Fernandes
Em São Pedro do Sul, um vendedor de gado foi preso por um assunto que aqui não interessa. Com os vasos comunicantes que dão interesse à vida, a prisão do dono deu liberdade ao gado abandonado à sua sorte. Uma vaca de olhos ternos mas hastes firmes, leitora talvez das aventuras do Marreta que há uns meses emocionou o País, decidiu também ser notícia. Ao lugar chama-se Terras do Alto, as aldeias, Cotães e Moldes, olhando o rio Sul que corre lá em baixo - foi esse cenário bucólico que a nossa vaca decidiu inquietar. O Minho e o Douro já tiveram o Zé do Telhado e o Algarve, o Remexido, mas de bandidos de estrada notórios não consta o centro. A vaca das Terras do Alto, atenta às notícias, também parece ter sido leitora de História - por que não uma Maria da Fonte de cascos e cornos? E pronto, durante duas semanas, a vaca, escolhendo a calada da noite, como é próprio do destino que escolheu, calcou culturas e assustou gentes. Os jornais apressados e as televisões levezinhas deram eco de Iraque às tropelias inocentes nas Terras do Alto: "Aldeia em pânico com vaca brava!", titularam. Alertou-se a Proteção Civil, constou a fuga de dois militares da GNR investidos, Ricardo Araújo Pereira ousou brincar com os magotes de aldeões com chuços à caça da bandoleira solitária... Uma camponesa, enfim, encerrou a vaca no lagar. Diz-se que os povos felizes não têm notícias. A nossa ânsia em tê-las se calhar é mais uma prova do nosso masoquismo.
"DN" de 21 Jun 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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