10.7.14

11 contra 11 e no fim 200 milhões choram

Por Ferreira Fernandes
O Brasil tinha um fantasma por exorcizar, aquela terrível tarde de 16 de julho de 1950, no Maracanã, quando o uruguaio Ghiggia, com o 1-2, calou um país inteiro. Pois, está feito, 1950 foi esquecido. Nunca mais nenhum brasileiro vai chorar esse dia antigo. Dirá até: bons tempos! Há pior que o silêncio ensurdecedor que, dizem, se abateu no Maracanazo. Pior são as palmas e os olés - das bancadas brasileiras contra a sua própria equipa, no estádio com nome superlativo, Mineirão. Como não? Em mineirinho não cabiam sete golos. Deve ser a isso que se chama sorriso amarelo canarinho. Em cidade chamada Belo Horizonte, quando o que se vê é cova de moribundo. Aliás, você não está vendo nada, está a chorar. Agora, sim, é momento disso, fazer o luto. Chorar agora é bom, para se redimir do chorar mariquinhas de há dias pela "pressão psicológica". Esta é indecente, amacia os atletas; as derrotas brutais, essas, talvez curem. Comecem por exercício simples: concedam que a seleção alemã é muito, muito melhor. É Miroslav Klose, magro e seco, roubando o recorde de maior marcador de sempre em Mundiais, jogando, nas barbas de Ronaldo, engravatado e fenomenalmente gordo, comentando. Quando as imagens saltam assim, permitam a alegoria tão atual, como golos germânicos em baliza brasileira, há que mudar. Voltem ao futebol alegre. Não garanto Copas com ele mas fica justificado o futebol brasileiro.
«DN» de 9 Jul 14
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Carta-aberta à criadagem 
Quando toca a alemães, a admiração só pode ser pelas virtudes coletivas. Rácicas até. Os admiradores das qualidades teutónicas reconhecem-se pelo boné. Este evidentemente tirado da cabeça, levado à altura do cinto e agarrado com ambas as mãos; o lento virar do boné entre as mãos e o inclinar respeitoso da cabeça completam a atitude correta do indígena. Ah, os alemães, que povo! O italiano Pirlo, por exemplo, é bom porque ele é genial ao colocar a bola onde quer, já o alemão Sami Khedira que cavalga o relvado como uma fome de anteontem faz isso porque traz no sangue as ganas dos Nibelungos. Sendo filho de tunisinos, não perguntem como. O português Cristiano Ronaldo investe como um bisonte porque se musculou quando foi para Manchester, já a inteligência de Mesut Ozil vem-lhe dos genes de Kant. Sendo o médio-ala filho de turcos, talvez seja porque o império otomano não foi derrotado às portas de Viena em 1683 como se julgava. O mexicano Ochoa agarra bolas porque se julga uma aranha de mil braços, já o alemão Miroslav Klose bate todos os recordes de golos nos Mundiais porque tem Wagner nas veias. Sendo ele de origem polaca, já sabem porquê - aquilo vem-lhe de algum alemão que por lá passou, e passaram muitos... Enfim, a Nationalmannschaft ganha porque a Alemanha é metódica, trabalhadora, de superior cultura e carácter. Aliás, nunca antes outro povo ganhou um Mundial. Dito isto, ponham o boné e podem ir à vida.
«DN» de 10 Jul 14 

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Pois eu cá, por causa das teimas, gostava agora que a Argentina desse 7-1 à Alemanha.
Mas é só desejo, claro.
Mais por causa do boné à altura do cinto, agarrado com mãos ambas. E reconhecendo, aliás, que os alemães não são culpados de nada.

10 de julho de 2014 às 22:35  

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