2.7.14

A avó que não larga o pedestal do neto

Por Ferreira Fernandes 
Alguns Papas, não podendo oficialmente ter filhos, escolhiam o "sobrinho" como sucessor. "Nepote" sendo a tradução em italiano de sobrinho, o nepotismo passou a explicar o favoritismo dado a familiares de poderosos e generalizou-se o termo mesmo quando os beneficiados eram filhos ou primos. Sendo a fama mais gratuita do que o poder (não exige distribuição de prebendas), ser familiar é também cada vez mais condição para que se lhe estendam microfones. Uma avó de um astro caído em escândalo, se souber gerir essa sua condição tem garantido os seus quinze minutos de fama. E até repetição caso o neto caia regularmente em pecado. Os jornalistas recorrem com frequência a Lila René Piriz - claro, é avó paterna de Luis Suárez, o brilhante futebolista uruguaio de dentes arreganhados. Aqui há uns meses, tinha Suárez lançado um insulto racista a um colega da Premier League, o campeonato inglês onde jogavam, e a avó Lila soube fazer-se ouvir. Meteu em contradição o desbocado do neto que é mestiço: "Então, Luisito não te lembras como chamavam ao teu avô e meu marido, El Negrito?" Agora, quando Luis Suárez mordeu em direto mundial televisivo o ombro dum adversário italiano, a avó veio propor uma análise freudiana: foi o divórcio dos pais, era Luis miúdo, que lhe deu ganas mandibulares. Reparem, no nepotismo raramente o favorito morde no dono; na fama, o familiar já se permite algumas críticas. O poder corrompe, a fama só ofusca. 
DN» de 2 Jul 14

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