Estar pelos cabelos com estes malucos
Por Ferreira Fernandes
Uma repórter do Times de Londres está em Akcakale, cidade turca na fronteira com a Síria. Do outro lado é outra cidade, Tel Abyad. A repórter foi a uma loja de Akcakale, para que o barbeiro, que fugiu da Síria, nos explicasse a região, da raiz à ponta dos cabelos. No tempo do regime de Bashar, que ainda continua firme em Damasco, a cara dos homens era escanhoada. Depois, começou a rebelião e o Exército Livre da Síria (ELS), a favor de um regime democrático, ocupou a região. O barbeiro sentiu na pele a guerra civil mas também no pelo dos clientes. Aumentavam as barbas, que eram tratadas com cuidado e passadas pelo secador. Mas nas barbas desses rebeldes mais suaves cresciam, entre alguns dos seus aliados, uma ala de barba rija de convicções, os radicais do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), que decretou um califado e expulsou o ELS. A linha política do atual poder em Tel Abyad, segundo o barbeiro, é longa: agarra-se a barba com dois punhos justapostos e têm de sobrar pelos. Com a vitória dos barbudos farfalhudos, os das barbas cuidadas fugiram para a vizinha turca. Entretanto, o EIIL prometeu perdão a quem regressasse. Então, na barbearia apareceram os do ELS, pedindo para raspar as caras. Achavam que, ao regressar, era mais seguro parecerem-se mais com o inimigo antigo comum do que com os aliados recentes. Sabe bem ver um folículo de inteligência entre tanta política sebácea.
«DN» de 17 Jul 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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