Tempos esquisitos, estes
Por Ferreira Fernandes
Tudo foge entre os dedos. Espírito Santo era uma família, certo? Tão poderosa que da admiração de muitos à inveja de tantos não deixava de ser o que sobretudo era: passado, riqueza, patine, poder. Família centenária. Agora, são queixinhas: "Olhem que os meus primos também..." Outros a patinar: a polícia era força, certo? Às vezes, extravasava, marrava para a sua crença natural, ser força. Mas querem os tempos modernos que ela agora seja mais de levar e calar. No sábado, foi cumprir a lei e baixar o som de uma rave em campos alentejanos e foi recebida à pedrada e sofreu feridos. Não está aí o problema, no levar. Não se exige à polícia que ganhe todas as batalhas. Não se exige, à primeira, atenção! Mas depois de ir curar os dói-dóis à urgência, não pode exibir como único espólio a detenção de um pobre diabo apanhado junto a aparelhos sonoros sem licença. Se policiar fosse só passar multas, era só armada de esferográficas. Terceiro sinal moderno: jornalismo é para informar, certo? Ontem, a RTP apresentou uma reportagem de um "bombista português" (e no último momento riscou "mártir", felizmente). Pois passou o tempo a pôr-lhe aspas no nome e a esconder a cidade onde morava. Mas até a esconder a reportagem foi má, tapou Marselha e mostrou igrejas emblemáticas de Marselha. Que saudades dos tempos em que as famílias presunçosas eram família, os polícias policiavam e os jornalistas revelavam, não apagavam.
«DN» de 19 Ago 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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