Desculpas de mau pagador
Por Antunes Ferreira
ESTA SEMANA entrámos na fase das desculpas dos
(des)governantes. Na quarta-feira foi a ministra da Justiça, Paula Teixeira da
Cruz, que pediu desculpa pelos "transtornos" resultantes dos
problemas detectados na plataforma informática Citius e garantiu que serão
apuradas responsabilidades.
Paula Teixeira da Cruz disse "assumir
integralmente a responsabilidade política" pelos "transtornos"
registados na plataforma, mas negou que estes tivessem causado o
"caos" nos tribunais. E garantiu que tinha recebido informações de
que a 1 de Setembro, data da entrada em vigor do novo mapa judiciário, o Citius
estaria em condições de funcionar em pleno.
Quanto às anomalias técnicas verificadas no
Citius, a ministra assegurou que "haverá um processo de averiguações
porque não há ninguém irresponsável" e que serão "apuradas as
responsabilidades até ao limite", mas insistiu que "não houve
qualquer caos" e que essa teoria só pode ter partido de pessoas que
"são contra a reforma" ou que estão de "má fé".
Questionada sobre para quando o restabelecimento
da normalidade da plataforma informática, a ministra não se comprometeu com
qualquer data, afirmando, contudo, esperar que os problemas sejam resolvidos o
mais breve possível.
Num país a sério e sério um governante que
reconhecesse que um tal erro corresponderia à apresentação de um pedido de
demissão. Porém em Portugal não é assim. Sobre a eventualidade de se demitir, a
titular da pasta da Justiça disse que "tem sempre o lugar à disposição",
mas que, "numa altura de dificuldades", a sua prioridade é
"resolver os problemas" da plataforma.
Após as declarações da ministra, Rui Mateus
Pereira, presidente do Instituto de Gestão Financeira e dos Equipamentos da
Justiça (IGFEJ), disse ter sido ele a garantir a Paula Teixeira da Cruz que a 1
de Setembro o sistema estaria apto a funcionar. "O que se passa é que a
plataforma com a sobrecarga de dados acabou por não corresponder às
exigências", explicou. E adiantou que, além dos 3,5 milhões de processos
que foram migrados para o Citius, houve 80 milhões de documentos e 120 mil
milhões de actos processuais enviados para a plataforma.
De desculpas em desculpas por ordem regredidativa de funções todos os intervenientes sacudiram
a água dos respectivos capotes e de degrau em degrau ver-se-á que no fim da
escala regressiva, quem se irá tramar será um “técnico” Mas, entretanto o
presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais disse que os tribunais estão
num situaçõ impossível devido aos problemas do Citius. Não querem chamar-lhe
caos, chamem-lhe confusão, pandemónio, enfim.. E acrescentou eu era provável
que a ministra não tivesse entrado num tribunal há quinze dias, porque, se o
tivesse feito, veria a situação com que se confrontavam.
Por seu turno, o ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, assumiu na
tarde de quinta-feira que “houve uma incongruência”, “na harmonização da
fórmula” com base na qual foram ordenados milhares de professores sem vínculo,
que começaram a ser contratados pelas escolas na segunda-feira passada. “Peço
desculpa aos pais, aos professores e ao país”, disse, na Assembleia da
República, ao assumir o erro. Ao fim da tarde, soube-se que aceitou a demissão
do director-geral da Administração Escolar, Mário Agostinho Pereira.
Em causa está a fórmula matemática utilizada pelo MEC para criar as várias
listas de contratação, nas quais milhares de docentes estão ordenados por ordem
decrescente. Nos restantes concursos a lista está ordenada com base na
graduação profissional. Neste, designado por Bolsa de Contratação de Escola
(BCE), a legislação determina que a classificação é feita com base na graduação
profissional (com a ponderação de 50%) e na avaliação curricular.
O ministro, que falava na Assembleia da República num debate de actualidade
agendado pelo PSD a propósito do arranque do ano lectivo, assumiu a existência
de "um erro", com “implicações jurídicas”. E sublinhou que os
deputados estavam a assistir “a uma coisa que não é comum na História, que é um
ministro chegar ao parlamento e reconhecer a responsabilidade por uma não
compatibilidade de escalas, e um ministro assumir que o assunto vai ser
corrigido”, disse. O erro, explicou, "é um aspecto não apenas
matemático ou aritmético, mas que tem implicações jurídicas, e que precisa de
ser visto não só de um ponto de vista quantitativo e lógico, mas também à luz
da legislação existente".
Por certo não se recordou dos casos Walter Rosa e Jorge Coelho que tiveram
a hombridade de pedir a demissão face a casos que não sendo da sua responsabilidade
objectiva, mas que aceiram como responsabilidade política; para não falar da
ocorrência anedótica do ministro Manuel Pinho verificada na Assembleia da
República; Pinho também se demitiu por mor do caso que ficou conhecido como
caracol põe os corninhos ao Sol. A
uni-los uma característica comum: todos eles eram do Partido Socialista.
Cada um desculpa-se como pode; são as desculpas de mau pagador que neste
caso é o (des)Governo que descredibiliza a afirmação que o Estado é pessoa
séria deve pagar a quem deve.
Etiquetas: AF
1 Comments:
Na Justiça, o equipamento vai ser despedido com justa causa. Na Educação, a fórmula vai deixar de pertencer aos quadros da função pública, com perda de todas as regalias!
Um abraço
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