17.10.14

2,60 € por mês e o Pai Natal

Por Antunes Ferreira
DE ACORDO com o famigerado OE 2015 parece que as pensões mínimas são aumentadas. Mais: dizem-me que o aumento é de € 2,60 por mês. Quantia mais do que substancial. A titular da pasta das Finanças Maria Luís Albuquerque disse até que: "muitas famílias vão ter mais poder de compra" graças ao novo Orçamento. É obra.
O ar altivo e aristocrático da governanta, digo, governante e a sua impassibilidade permitiram-lhe afirmar esta barbaridade perante as câmaras televisivas. C’os diabos 2,60 € por mês sempre são 2,60 € mensais. Imagine-se o que certamente se irá verificar; com uma actualização de 2,60 € mensais,  desde as grandes superfícies até às PME soltarão, quero crer, um suspiro de alívio; isto estava mal, mas agora e que se vão deitar foguetes pelo aumento do poder de compra que está na directa proporção do aumento das vendas.
Mas, deixemo-nos de ironias, aliás estúpidas e inoportunas: o aumento é vergonhoso, mas também é aviltante. Já não basta um cidadão andar a morrer de fome, a estender a mão à caridade, a rebuscar nos caixotes de lixo em busca de algo que ainda se possa comer, e ainda vêm despudoradamente estes (des)governantes criminosos gozar com ele.
Porque, disso não haja dúvidas estes 2,60 € de aumento mensal são um escarro de face dupla. A quem o recebe e os que o “dão”. Já se sabe que não há respeito pelos mais desfavorecidos; já se sabe que os pobres são pobres até morrer; já se sabe que os ricos são os detentores do poder e que o antigo $ comandava  a vida e agora o € também o faz. Mas, pelo menos haja vergonha nas caras dos que dizem que nos governam e, afinal, apenas (des)governam.
Em 1874, Tomás Ribeiro, na sua obra “D. Jaime” utilizou pela primeira vez a expressão Jardim à beira-mar plantado. Há frases que ficam na História pela positiva; outras que que primam historicamente pela negativa. Foi Stefan Zweig quem criou o Brasil, país do futuro, que funcionou como um anátema para o país irmão. A partir daí os brasileiros tentaram esforçadamente dizer que a sua terra era o país do presente.
Neste país – mesmo que seja à beira-mar plantado – a hora é da desmoralização, do sofrimento, da crise, da austeridade, mas também da autoridade. Faz-se um Orçamento do Estado, o primeiro depois da funesta troika, mas segue-se o caminho traçado pela trindade amaldiçoada, UE, BCE e FMI. Isto quer dizer que do pouco de “autonomia” que nos restava tirou-se tudo. A política financeira do Estado desenha-se em Bruxelas, ou mais propriamente, em Berlim.
O primeiro-ministro (?) afirmou, aparentemente convicto que este não era o Orçamento eleitoral, referindo-se às legislativas que estão por aí a rebentar. Assim sendo, porquê a aparente diminuição de impostos (onde? Quando? Como?), porquê a devolução de roubos feitos aos funcionários públicos (agora trabalhadores da Função Pública, para ser politicamente correcto), porquê promessas em que ninguém já acredita, porquê a ressurreição do Pai Natal?
Todos os Executivos perante a eminência de eleições entram pelo caminho da facilidade (e não da felicidade), das benesses, das concessões. Nas urnas (que são a demonstração pública embora secretas da Democracia) joga-se normalmente e em Liberdade quem ficará com o poder. Não é novidade dizê-lo, o Amigo Bana não se envergonharia de o afirmar. Para ganhar o poleiro, entra-se na via do vale-tudo, da desonra, do opróbrio, da desilusão, em suma. Ou seja, prostituem-se as eleições.

Mas dar aos pobres, aos desgraçados, aos esfomeados um aumento de 2,60 € mensais é, além de tudo o mais, um descaramento. No entanto, por esse país fora, em especial nas aldeias do interior, ainda há quem vá nos 2,60 € por mês. Como ainda há quem acredite no Pai Natal. 

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3 Comments:

Blogger lino said...

Apesar de tudo, é menos cretino acreditar no Pai Natal do que acreditar em qualquer membro do desgoverno ou da minoria que o apoia.
Abraço

17 de outubro de 2014 às 17:25  
Blogger Bmonteiro said...

+2,60 euros/mês?
O meu reconhecimento ao nosso Premier PPC, pela minha dispensa do CES.
A bem do Regime,
a bem da Equidade.

17 de outubro de 2014 às 18:25  
Blogger Agostinho said...

Mas que diabo, o autor da crónica deve ser dos que vivem acima das suas possibilidades. Não perceber ainda, ao fim de quase 4 anos de reajustamento, o que é "precisão". Só pode ser isso!!!

Veja-se que € 2.60 a dividir por 30 dias dá um incremento no orçamento diário de 8,6666666... cêntimos. Um número enorme, sem dúvida, tendo em conta que nem dá resto de zero!

Não chega para um papo-seco diário? Paciência. Foi entretanto noticiado que o preço da carcaça em janeiro será à volta dos 15 cêntimos. Fazendo as contas, dá para mais meia carcaça diária. Uma extravagância de mais três carcaças por semana.

Os desdentados deste país, que não têm nada que fazer, não devem esquecer-se que comer pão duro é uma boa forma de poupar: podem ficar a amolecer a côdea. O padeiro também poupa gasóleo, deixando dia sim, dia não mais uma unidade.

Que (des)Governo temos nós!!!

25 de outubro de 2014 às 22:41  

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