Sem emenda - Todos os anos, pelo Outono…
Por António Barreto
Os primeiros dias de Setembro recordam rotinas e despertam saudades… Há melancolia no ar, mas também energia renovada. Os corpos ainda trazem sinais do mar ou da montanha. As olheiras do cansaço desapareceram por um tempo. O urbano retoma o seu império. Aliviados durante umas semanas, os acessos às cidades ficam congestionados e recomeçam as filas de carros e as horas perdidas. Nas ruas das cidades, fazem-se as obras mais vistosas, pois o ano que aí vem é de eleições. Os filhos vão para as escolas. Recomeçou a cena dos manuais a preços incompreensíveis. Veremos se, este ano, volta a haver o drama da colocação de professores, mas tudo leva a crer que não: os sindicatos querem poupar o governo. Nas universidades, acolhem-se mais umas dezenas de milhares de novos alunos. Uma grande parte dos mais velhos entrega-se ao prazer sádico anual, a praxe, que convive com o alcoolismo, a pornografia e a violência. E a impunidade.
Os primeiros dias de Setembro recordam rotinas e despertam saudades… Há melancolia no ar, mas também energia renovada. Os corpos ainda trazem sinais do mar ou da montanha. As olheiras do cansaço desapareceram por um tempo. O urbano retoma o seu império. Aliviados durante umas semanas, os acessos às cidades ficam congestionados e recomeçam as filas de carros e as horas perdidas. Nas ruas das cidades, fazem-se as obras mais vistosas, pois o ano que aí vem é de eleições. Os filhos vão para as escolas. Recomeçou a cena dos manuais a preços incompreensíveis. Veremos se, este ano, volta a haver o drama da colocação de professores, mas tudo leva a crer que não: os sindicatos querem poupar o governo. Nas universidades, acolhem-se mais umas dezenas de milhares de novos alunos. Uma grande parte dos mais velhos entrega-se ao prazer sádico anual, a praxe, que convive com o alcoolismo, a pornografia e a violência. E a impunidade.
A Justiça inicia o seu ciclo. Ou antes, recomeça o ano judicial, não necessariamente a Justiça. Aproximamo-nos do fim de prazos agora famosos. Os grandes processos, “les causes célebres”, continuam a sua penosa caminhada sem que se adivinhe o fim. Talvez nunca! Os banqueiros, bancários, gestores, empresários, governantes, deputados, autarcas e altos funcionários indiciados, arguidos, julgados, condenados ou em recurso esperam. Os cidadãos também.
Por António Barreto
Pelo país fora, no mundo mais sensível à natureza, é tempo de mudança. E de continuidade. Por matas e florestas, entre os queimados, fazem-se balanços, à espera de indemnizações e ajudas que só tarde chegam. Os últimos cereais foram guardados. Acaba a fruta de Verão. Ainda se corta a cortiça. Em breve se começará a preparar a terra para o ano seguinte. Mas o tempo é de vinho: em grande parte do país, fazem-se vindimas. Cheira a mosto nos campos, nas aldeias e nas vilas.
Na Assembleia da República, limpa-se o pó das bancadas e das poltronas. Prepara-se a liturgia do orçamento. Serão longas semanas de trabalho, debate e berraria. A despesa e a receita de 2017 estão em discussão. Governo e oposição vão defrontar-se com rara aspereza. A novidade é que os apoiantes do Governo, mas que dele não fazem parte, querem pretextos para apoiar, sem perderem a face nem os eleitores! As fricções, dentro do bloco do governo, serão tão ríspidas como as que se verificarão entre Governo e oposição. Só que mais discretas.
É tempo dos balanços a que o orçamento obriga. Confirma-se que o produto cresce pouco ou nada. Que o consumo interno não cresce. Que a poupança está no mais baixo de sempre. Que o investimento continua a diminuir. Pior: vamos verificar, com factos e números, que o produto nacional e por habitante não aumenta desde o principio do século! Há quinze anos que o crescimento é zero! De 2000 a 2015, a preços constantes, com pequenos altos e baixos, estamos agora ao nível de então. A média anual do período é praticamente zero! É o mais longo período de estagnação económica da história moderna!
Após estes quinze miseráveis anos, era necessário estudar e rever. Era necessário verificar o que bateu certo e o que correu mal. Globalização? Euro? Crise financeira? União europeia? Troika? Demagogia política? Corrupção? Falta de reformas? Falta de investimento? Estado a mais? Investimento público a menos? Um bom debate, no parlamento e na sociedade, nas televisões e nos jornais, talvez ajudasse a rectificar. Ou, pelo menos, a esclarecer com mais inteligência e menos algazarra. Mas não. Vamos assistir ao habitual passa culpas. O que corre mal deve-se ao governo anterior. Sempre. Ou antes desse. Ou ao actual. Os maus resultados deste ano são já visíveis. Neles, o PSD e o CDS procuram o seu contentamento. Deles, o PS acusa o governo anterior. Por causa deles, o Bloco atira sobre a União Europeia. E o PCP faz pontaria ao capitalismo.
DN, 4 de Setembro de
2016
Etiquetas: AMB
2 Comments:
Sempre lúcido e oportuno!
A propósito, comprei os livros escolares para as minhas duas netas (4º ano e 7ºano)edições completas. Custaram-me qualquer coisa para lá de 400 Euros. Isto justifica-se?
Se houver dúvida, posso apresentar cópias das facturas.
Uma belíssima descrição de Setembro...porque Setembro é mesmo assim...transporta consigo alguma saudade de um tempo, de um lugar ou de uma paisagem...talvez mesmo de um sorriso ou de um olhar.É um fim, e um recomeço...
O sol é mais pálido, os dias mais curtos, as folhas das árvores vão amarelecendo...e, num repente,o quotidiano instala-se com as cores berrantes da realidade
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