27.10.16

A Santa Inquisição – Homenagem da C. M. Évora às vítimas

Por C. Barroco Esperança 
Hoje sabe-se mais sobre a origem, funcionamento, apogeu e fim da tenebrosa instituição da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), do que os indefetíveis devotos gostam e a Cúria romana desejaria.
 O primeiro “Tribunal Público contra a Heresia”, da ICAR, nasceu em 1022, em Orleães (França), mas o ódio à heresia albigense (cátaros de Albi), superstição pior que a mais idiota e perversa das religiões, levou à criação do Tribunal da Inquisição, em 1184, no Concílio de Verona.
 A Inquisição conservou a virtude, alterando o nome: ‘Suprema Sagrada Congregação do Santo Ofício’, em 1904, e ‘Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé’, com João XXIII, em 1965. Ainda hoje defende a doutrina criada no Vaticano com o entusiasmo com que os cães ‘Serra da Estrela’ afastam, dos rebanhos, os lobos famintos.
 A Inquisição lembra as ‘Causas da Decadência dos Povos Peninsulares’ e a conferência de Antero de Quental, sob esse nome, integrada nas célebres Conferências do Casino.
 Apesar de a Península Ibérica ter sido alheia à Reforma, a Contrarreforma atingiu aqui uma crueldade que urge recordar quando se procura branquear a Inquisição, considerada benigna, e quase indulgente, em relação à violência da época em que torturou e queimou judeus, islamitas, bruxas, calvinistas, hereges, bígamos, sodomitas e endemoninhados.
 A nata intelectual da Contrarreforma era jesuítica, mas os inquisidores, com métodos eficazes para converter judeus e muçulmanos ao catolicismo, eram, sobretudo, membros da Ordem Dominicana. Nos autos de fé, festa pia, era vulgar ver o rei a assistir, em gozo místico, ao churrasco de bruxas ou de judeus sefarditas. De 1540 a 1794, os tribunais de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora condenaram às chamas 1.175 pessoas vivas.
 Quando a santidade era, ainda e só, a indicação da função e estado civil (a canonização viria após a defunção e os milagres), João Paulo II pediu perdão “por erros cometidos ao serviço da verdade”, singulares palavras para designar 5 séculos de Inquisição, onde o fogo era gerido para prolongar a dor e os instrumentos de tortura abomináveis.
 A inauguração de um memorial aos milhares de vítimas da Inquisição, para assinalar os 480 anos da criação do Tribunal do Santo Ofício, na Praça do Giraldo, em Évora, não é apenas uma homenagem a 1794 pessoas queimadas vivas por ordem dos Tribunais de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora, é um monumento contra a intolerância, a xenofobia e o totalitarismo das verdades únicas. Registe-se a data, 22 de outubro de 2016.
 Parabéns à Câmara Municipal de Évora pela homenagem às vítimas da Inquisição.
 Ponte Europa / Sorumbático

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3 Comments:

Blogger SLGS said...

Belíssimo Texto.
Com sua permissão, associo-me nos Parabéns à Câmara Municipal de Évora, pela coragem de um acto justiceiro.

27 de outubro de 2016 às 16:58  
Blogger Carlos Esperança said...

SLGS:

É um dever cívico saudar a Câmara Municipal de Évora cuja pertença partidária não quis averiguar.

Gostei particularmente do painel.

27 de outubro de 2016 às 18:18  
Blogger Ilha da lua said...

Também daqui quero saudar a Câmara Municipal de Évora por esta iniciativa Fiquei com alguma curiosidade em saber se nesta homenagem às vitimas da Inquisição ,esteve presente algum representante da Igreja Católica

27 de outubro de 2016 às 19:06  

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