A recontagem e Moscovo
Por Antunes Ferreira
As últimas eleições presidenciais nos Estados
Unidos da América parece que não chegaram ao fim com a proclamação de Donald
Trump como vencedor. O complexo mecanismo eleitoral norte-americano está a ser
posto em causa, nada que não tivesse acontecido antes. Mas, desta feita, está a
atingir dimensões nunca vistas, desde as manifestações de rua contra o
candidato eleito até às dúvidas cada vez maiores dos resultados do escrutínio.
As considerações dubitativas deram como resultado
que três estados que eram considerados a “cintura da ferrugem” avançassem para
a recontagem dos votos eleitorais: Michigan, Winsconsin e Pennsylvania. Um
espanto. Trump apressou-se a vir a terreiro considerando que se trata de uma
atitude estúpida que não iria alterar o que se iria verificar: o próximo
presidente norte-americano a partir de Janeiro seria ele e ponto final.
Os lobbies têm muitíssima força em Washington e
no resto do país. Na política americana (e em quase todas as outras) não se
pode viver – e vencer – sem eles. E o apelo ao patriotismo (muitas vezes ao
“patrioteirismo”) é uma arma igualmente muito utilizada pelos partidos do
espectro político. Da direita até à esquerda ele serve-lhes de bandeira e até
aos extremismos de cores antagónicas issi também acontece. O populismo usa-o
como arma de arremesso e a democracia teme-o. Porém, a ditadura também. Este é
o Mundo em que vamos sobrevivendo.
O ainda presidente dos EUA, Barack Obama,
declarou, ontem (sexta-feira), que pretende analisar o resultado das últimas
eleições depois das suspeitas da intervenção de um hacker russo. "Podemos
estar a passar por um novo limiar e temos de ser nós a fazer o balanço do que
está a acontecer. Devemos fazer uma revisão, desenvolver estratégias futuras,
para entender o que aconteceu, para, daí, tirar algumas lições", disse
Lisa Monaco, conselheira de Barack Obama, para questões de contra terrorismo e
segurança interna.
Era impensável que assim acontecesse – mas aconteceu. Já em Outubro,
responsáveis do Departamento de Segurança Interna dos EUA tinham acusado Rússia
de ter pirateado as plataformas do Comité Nacional Democrata e de outras
organizações políticas, para interferir nas eleições. O mais interessante (e
importante) é que no início da semana, estas mesmas acusações foram reiteradas.
O Departamento de Segurança disse estar confiante de que o governo russo
ordenou a invasão dos emails de várias pessoas e instituições", incluindo
políticos norte-americanos”. E sublinhou em comunicado que acreditava "
que apenas um alto responsável russo poderia ter autorizado este tipo de actividade",
podia ler-se no comunicado.
No entanto, esta
não é a primeira vez que umas eleições norte-americanas se veem confrontadas
com uma interferência estrangeira. Em 2008, quando Lisa Monaco pertencia aos
quadros superiores do FBI, a agência alertou as campanhas do então senador
Obama e do senador John McCain para uma possível infiltração dos respectivos
sistemas por parte da China, revelou a conselheira.
Em Outubro, os EUA acusaram
oficialmente a Rússia de
realizar uma ampla campanha com o objectivo de influenciar as eleições. A
denúncia, feita pelo Departamento de Segurança Nacional e pelo gabinete do
director dos Serviços de Informação norte-americanos, dizia que o Kremlin
realizou acções de pirataria em computadores do Comité Nacional do Partido
Democrata e de outros órgãos e personalidades políticas. Os responsáveis
do partido democrata já apelaram a Barack Obama para divulgar mais informação
relacionada com os alegados ataques informáticos por parte da Rússia.
Hoje há a certeza que os segredos não são segredos. A capacidade de
informação é um poder que abarca o Mundo e qualquer dos seus habitantes. Não se
pode esconder nada. Razão tinha George Orwell com o seu “1984”. Não é o “Big
Brother” que “is watching us”, é a globalização, é a Aldeia Global de McLuhan.
É, um destes dias, a máquina a substituir o homem. E o Trump a ser presidente
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