A manada desceu à cidade
Por Ferreira Fernandes
Não nos deixemos influenciar pelo grupo patibular escoltado por robocops de capacete e viseira, pela rua pública aos gritos ou, mais assustador, marchando em silêncio.
Na luz molhada do fim da tarde parecia o fascismo de botas cardadas conquistando a cidade. Parecia, mas era só uma manada. Uma manada pendular, de um para outro estádio da Segunda Circular, segundo o calendário desportivo.
Desportivo, ofende tanto dizer isso... Tanto quanto dizer da manada que é do futebol. Ela desmente a tradição daquelas cores defrontando-se, que já foram de Espírito Santo e Peyroteo, cada um em nome do vermelho ou do verde, e da elegância de Jordão que fez sonhar, à vez, os fãs dos dois clubes.
Como pode aquela manada reclamar-se do flash que é o Gelson ou, se o percurso fosse inverso, do saber fazer do Jonas? Como podem os brutos usurpar, dos artistas, a atenção?
Ontem, uma escola fechou mais cedo por ser vizinha da Luz e outra, também por jogo, perto do estádio do Boavista. A miúdos de uma e de outra abrir-se-iam os olhos de deslumbre se vissem passar um jogador, mas tiveram de recolher a casa por causa do tropel da manada. As televisões foram interrogar uma diretora e foi constrangida que ela disse não querer expor os seus alunos ao perigo...
Pois nem assim se foi perguntar aos da manada se não tinham vergonha, nem à polícia o despropósito de guardarem chantagistas. Nem ao sr. Vieira e ao sr. Carvalho se pediram explicações pelo repetido absurdo.
Ontem, uma escola fechou mais cedo por ser vizinha da Luz e outra, também por jogo, perto do estádio do Boavista. A miúdos de uma e de outra abrir-se-iam os olhos de deslumbre se vissem passar um jogador, mas tiveram de recolher a casa por causa do tropel da manada. As televisões foram interrogar uma diretora e foi constrangida que ela disse não querer expor os seus alunos ao perigo...
Pois nem assim se foi perguntar aos da manada se não tinham vergonha, nem à polícia o despropósito de guardarem chantagistas. Nem ao sr. Vieira e ao sr. Carvalho se pediram explicações pelo repetido absurdo.
Enfim, as manadas existem e ocuparam a cidade. E muita sorte têm as escolas por, ao fechar, não serem acusadas de causar danos psicológicos às botas cardadas ou cascos ou lá o que é.
-"Um Ponto é Tudo" - "DN" 4 Jan 18
Etiquetas: autor convidado, F.F
6 Comments:
Muito feliz o "regresso" de FF. Como sempre, trouxe-nos uma crónica cheia de sentido crítico, denunciando a vergonha nacional que são essas manadas futebolísticas. Eu não consigo entender como homens, (disse homens?) se não envergonham de ser conduzidos em manada, talvez carneirada seja mais apropriado, para assistir a um espectáculo que devia ser uma festa de são convívio entre adeptos.
Obrigado FF pela denúncia, talvez aos poucos se consiga fazer despertar esta gente, principalmente os dirigentes desportivos e os nossos governantes para esta ofensa pública.
A ajudar à "festa", ainda temos a PSP a apregoar em todo o lado que "vai ser um jogo de ALTO RISCO", e a enumerar as suas "armas", o que é música para os ouvidos dos "hooligans".
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Não nos esqueçamos que esses serviços são pagos pelos clubes...
Já tinha lido e, como sempre, apreciado. Ainda bem que o FF regressou aqui.
Noutros tempos ensinava-se às crianças,que numa competição,se podia ganhar ou perder,o mais importante era participar Era feio fazer batota O adversário devia ser respeitado De repente,isto parece que foi há muito tempo...já não se usa,tudo se inverteu...Será,que ainda se pode considerar o futebol um desporto? Para mim,neste momento é uma máquina de fazer dinheiro...que move quantias exorbitantes,que quanto mais peixeiradas e escâdalos mais excita os adeptos...Basta ver o tempo, que os principais canais televisivos ocupam com o futebol.É espantosa a facilidade de mobilizaçào das forças da ordem para os ditos jogos de alto riisco,quando noutras circunstâncias essa mobilização deixa tanto a desejar
Este comentário foi removido pelo autor.
Concordo com o texto e com os comentários anteriores (leio sempre, mas apenas, as opiniões das pessoas que me merecem respeito; quando não é assim, aprendi a ignorá-las com eficiência absoluta).
Vale sempre a pena ler textos bons, bem pensados e muito bem escritos.
Obrigado. O sorumbático renasce.
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