O DINHEIRO DOS OUTROS
Por Joaquim Letria
Há pessoas que me perguntam se eu, agora, só escrevo sobre o caso do Edifício Coutinho. Esclareci todos quantos me interrogaram e aproveito esta oportunidade para também avisar os que me lêem aqui no Minho Digital. Pelo menos até 31 deste mês, data do ultimato da Polis para expulsar “a bem ou a mal” os resistentes do Coutinho, não farei outra coisa.
Faço-o com esperança mas sem ilusões. A Justiça sei eu em que assenta, Justiça que como em grande número de casos deixa muito a desejar, por interpretar e se enrolar num elevado número de leis, algumas de bradar aos céus.
Agora calar-me e render-me a quem tem a força, mas não tem a razão, deixá-los fazer o que lhes dá na gana contra quem tem razão, não me calo nem me rendo sem lhes dar o tratamento que merecem e que andam a pedir.
Para mim esta pode ser uma causa perdida. Mas sempre me bati por estas e sempre tive a recompensa de estar do lado da seriedade e da dignidade de quem luta, mesmo sabendo-se derrotado, sem deixar de incutir coragem nos outros .Portanto, aqui me têm, de peito aberto, para o que der e vier.
Vamos lá ver, então, quem alheio da razão é capaz de brincar com os sentimentos de outros. Que pretende esta gente, afinal de contas? Obviamente que ganhar algum, apanhando as migalhas que os donos lhes atiram, depois destes juntarem o pecúlio que lhes é assegurado pelo dinheiro dos outros. Ou alguém no seu perfeito juízo gastaria do seu dinheiro um milhão e duzentos mil euros para destruir um prédio bem construído e em perfeito estado de conservação? Com certeza que não.
E alguém com dois alqueires bem medidos sujeitaria a uma provação todos os que por isso vão passar, aturando o ruído, o pó, o entulho com que a destruição e o abate do “Coutinho” vão encher as redondezas?
E alguém com dois dedos de testa encheria aquele local com um estaleiro de construção, cheio de caminhões, gruas, misturadores de betão, poeiras , máquinas, homens aos gritos para transformar num inferno o paraíso assustado que ainda hoje ali se pode ver? Ou para além das migalhas ainda há mais alguma comissão?
E para quê construir um mercado municipal onde já houve um que foi arrasado? E porquê um mercado municipal quando está provado que já ninguém vai a um mercado municipal? Mistérios de comissionistas, mas fácil de perceber pelos que pagam : tanto por derrubar o “Coutinho”, tanto pela terraplanagem, tanto pela construção do mercado e tanto pela sua demolição quando “descobrirem” que um mercado municipal não dá, mais outro tanto pela transformação do mercado em alguma coisa útil.
Se não houvesse motivos inconfessos, alguém sério e de boas contas se metia, do seu bolso, numa aventura destas? Ora aí está…nada disto é uma aventura. É brincar com os sentimentos e ganhar com o dinheiro dos outros.
Ou não sabem que com a mudança dos hábitos de consumo, com as compras online, as entregas ao domicílio, o crescimento e o alastrar dos mini, super e hipermercados, os apelos irresistíveis dos centros comerciais, a resistência e a qualidade das lojas e do pequeno comércio, não há mercado municipal que resista?! Por favor, atirem-nos areia para os olhos mas arranjem uma desculpa mais plausível…
Alguém que explique a esses senhores as dificuldades dos respectivos municípios para resolverem os bicos de obra em que se transformaram os mercados municipais de São Domingos, de Benfica, de Alcântara, das Picoas, de Campo de Ourique, da Ribeira, em Lisboa e no Porto o do Bolhão, entre outros, hoje feiras de artesanato com nomes estrangeiros como Time Out, por exemplo, convertidos em ninhos de escritórios, galerias de restaurantes, praças de alimentação, floristas, lojas de bric-a-brac e salões de bailes com matinés para idosos.
Se acham que é disso que Viana do Castelo precisa, muito bem! Se, pelo contrário querem barulho desde as 4 da manhã, caminhões e carrinhas em permanente carga e descarga, gritos de homens e gargalhadas de mulheres a alegrarem as madrugadas, hoje cada vez mais afastadas do centro das cidades, façam favor!
Que saudades do “Coutinho” vão existir em Viana...
Publicado no Minho Digital
Etiquetas: JL
2 Comments:
«Faço-o com esperança mas sem ilusões»
Ou sem esperança nem ilusóes, Joaquim Letria.
Perante encómio do Chefe a missiva s/Deriva GNR no Sol e incentivo para continuar:
Mas o ... sabe melhor do que eu, onde é que estes assuntos são resolvidos.
Corredores e gabinetes ministeriais, não é?
No reino a traficância e impunidade instalada.
Com a assistência bovina do circo S. Bento.
A bem do Regime, por supuesto.
Haja alguém que diga o que deve ser dito.
Este país não existe.
E o carácter «indomável» dos «homens do norte» é uma treta. Se ao menos as mulheres tomassem a iniciativa...
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