10.8.18

A Cultura da Satisfação

Por Joaquim Letria
O Mundo vive hoje – e em boa verdade desde sempre – um período caracterizado pelo lucro rápido, a especulação e a desigual repartição da riqueza e do bem estar.

Na minha modesta opinião, o problema transcende fórmulas de economia e reside talvez naquilo a que se pode chamar de autocomplacência. Este conceito serviu para urdir uma trama perfeita em que assenta um novo tipo de dominação classista, assente no medo e na incerteza, inimiga do estado do bem-estar, ferozmente egoísta e destruidora de tudo quanto se possa assemelhar a solidariedade.
Este estado de complacência corresponde à ascensão ao poder de uma minoria de privilegiados que não tem outro interesse para além do curto prazo no que respeita aos seus projectos políticos e financeiros e se faz servir por hordas de sicários brutais, medíocres e desprezíveis.
Os resultados são temíveis.
Em nome da liberdade de mercado, o capitalismo está a destruir o próprio mercado e a mutilar-se a si próprio.
A tendência autodestrutiva do capitalismo moderno começa na grande empresa e acaba na perversão das finanças, nos destroços ecológicos, na exploração dos despojados, no abandono do investimento público, no crescimento do défice, na especulação e destruição da riqueza industrial, no desmoronamento do Estado-Previdência e, finalmente no desemprego endémico e no emprego frágil destinado à sub-classe dos desfavorecidos, dos imigrantes, dos desempregados, dos jovens e dos antigos operários.
A paisagem real é terrível: violência, drogas, guetos de miséria urbana e tráfico de seres humanos de um lado e, do outro, uma pequena minoria de privilegiados capaz de aforrar mais de metade do rendimento mundial.
A cultura da satisfação, ou da autocomplacência como lhe chamaram, converteu-se em sistema, com a sua antropologia, a sua moral própria, a sua filosofia apressada, os seus aparelhos políticos e as suas influências externas.
Publicado no Minho Digital

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4 Comments:

Blogger Acrescenta Um Ponto ao Conto said...

Boa tarde!

Convidamos-vos a ler o capítulo 5 do nosso conto escrito a várias mãos "Janelas de Tempo"
https://contospartilhados.blogspot.com/2018/08/janelas-de-tempo-capitulo-5.html

Votos de bom fim-de-semana.
Saudações literárias!

10 de agosto de 2018 às 17:10  
Blogger opjj said...

Sendo V.Exª um homem com experiência da vida sabe que o capitalismo trouxe bem estar.Olho para os meus conterrâneos da minha aldeia e todos eles que nada tinham e pouco receberam e hoje têm até filhos e netos com boas profissões.
O pobre tinha palavra e era confiável e transmitia valores.
Olhe para o MADUROS da Venezuela e da Coreia!
Cumps

10 de agosto de 2018 às 19:46  
Blogger Ilha da lua said...

OPJJ O que traz melhores condições de vida e igualdade de Oportunidades é a DEMOCRACIA !Infelizmente,tão maltratada por alguns...

10 de agosto de 2018 às 21:21  
Blogger opjj said...

Ao Ilha da lua.
Com esta DEMOCRACIA eu e outros milhões ficávamos na aldeia.Vê-se bem que não conhece a força dos filiados que secam tudo à volta e nada sobra para os outros.Não é por acaso que o PS mete 100.000 no Estado de cada vez.Parece que os tais 300mil;400mil e 500mil para outros, regressaram todos. As estatísticas dizem o contrário.
Os avençados aplaudem sempre até o fogo de Monchique foi uma obra d´arte " a preto e branco".
O outro bem dizia PROPAGANDA TENEBROSA.
Cumps.

11 de agosto de 2018 às 11:39  

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