O Comunismo do Post-Mortem
Por Joaquim Letria
O Cristianismo transformou o altruísmo através da virtude da caridade e fez dele o eixo do justo comportamento humano. Outras religiões e éticas também se equivaleram no reconhecimento dessa valia, mas sem dúvida que o pensamento cristão introduziu um conceito revolucionário, o qual é a igualdade universal diante da salvação.
É uma espécie de comunismo do post-mortemque contagiou o antigo mundo num momento em que as grandes massas, reduzidas ao sofrimento sem esperança duma sociedade cruel, aceitavam qualquer luz que lhes iluminasse a vida, mesmo que fosse para além da morte.
Assim, o vale de lágrimas desta vida não era mais do que o hallde entrada para a vida eterna a que chegaríamos mediante a Redenção depois de purgarmos pelo sofrimento o pecado original. Todo o foco da vida humana se desviou então para o seu final. Mas a lógica doutrinária da Igreja criou-lhe dificuldades na conciliação entre as exigências da prática religiosa com as necessidades da vida terrena.
Assim, o Cristianismo deixava de ser os estatutos duma empresa criada para durar e prosperar, fazendo o bem a todos aqueles que dela se aproximassem, para se converter na ordem de execução duma falência.
Quase todas as religiões fazem as suas exigências ao seu “staff”, aos seus clérigos. Mas o radicalismo cristão postulou a virtude terminal. O Juízo Final parecia então estar próximo. “Se queres seguir-Me , dá tudo o que tens aos pobres e acompanha-Me”. Se a Humanidade tivesse praticado a virtude deste despojamento, a sua presença na Terra teria sido abreviada. Ninguém perderia tempo a liquidar a factura do lado de cá.
O anunciado fim do mundo, sempre adiado, não chegou até agora. O maior receio dos tempos de hoje parece ser o dos perigosos e destrutivos vírus do software dos nossos smartphones, tablets e computadores. Que Deus, todo poderoso, os salve e tenha misericórdia de nós.
Publicado no Minho Digital
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