O regresso manso do fascismo
Por C. B. Esperança
Na caminhada para a presidência, a complacência de Donald Trump perante a violência nazi e a Ku Klux Klan (KKK) foi uma obscena vénia aos incómodos apoiantes, mas não foi o apoio dos extremistas violentos, que apoiaram o PR, que intimidou as democracias, foi a sua atitude que, na tibieza, silêncio ou cumplicidade, os estimulou.
Trump parece ser a referência de uma incubadora de lacraus: Putin, na Rússia, Xin, na China, Erdogan, na Turquia, Duterte nas Filipinas, Orbán, na Hungria, Al Sisi, no Egito e muitos outros que despontam, por todo o Planeta, alguns com rótulo de esquerda.
Curiosa e preocupante é a colisão entre dois autocratas agressivos, Putin e Erdogan, na ilustração da lei da Física, “polos do mesmo nome repelem-se”.
Em Espanha, a um conservador pragmático, Mariano Rajoy, sucedeu o mais reacionário dos candidatos, um franquista que exibe as habilitações académicas que recebeu de presente, com outras individualidades do PP, da Universidade Juan Carlos.
Salvini, na Itália, não é um caso isolado, é o paradigma dos fascistas do 3.º milénio que ascendem ao poder, com leves mudanças da linguagem e atitudes menos exuberantes.
De 1921 até à guerra de 1939/45 o nazi/fascismo não deixou de se robustecer, e foram vários os países onde a exaltação só esmoreceu com a destruição da guerra e a vitória dos Aliados. Antes, assistiu-se ao colapso das democracias parlamentares, aos abusos do poder, ao reforço da ordem e à orgia racista, enquanto os direitos e as liberdades fundamentais se esfumavam perante uma ideologia que fez soçobrar a civilização.
Hoje, assiste-se à derrocada dos valores civilizacionais com avatares desses fascistas de antanho, que tomaram sucessivamente o poder na Alemanha, Eslovénia, Croácia, Itália e outros países europeus com regras democráticas, enquanto a Espanha e Portugal, mais impacientes, se anteciparam pela via militar, dispensando as eleições. E mantiveram-se!
Hoje, também por meios democráticos, o fascismo pretende igualmente voltar ao poder, e está a voltar, com os mesmos tiques autoritários, apelos nacionalistas e igual desprezo pelos regimes que lhe permitem o acesso ao poder através do sufrágio. No maior país de língua portuguesa, um exuberante fascista tropical, Jair Bolsonaro, misógino, xenófobo, mitómano e homofóbico, pode tornar-se o próximo presidente brasileiro.
A Europa, em duas ou três gerações, esqueceu o passado e parece entusiasmada com os demagogos populistas de inspiração fascista que exploram o medo e o ressentimento de quem se alheou da participação cívica e foi criando horror à política.
Há uma amnésia coletiva que leva os cidadãos a julgar que as democracias são eternas e que se defendem sem democratas e sem luta política na sua defesa.
Etiquetas: CBE
1 Comments:
O regresso dos extremismos,quer de direita,quer de esquerda,são sempre mansos...É um sinal de alerta para a democracia.É um indicador para que se faça as correcções necessárias Só a liberdade pode atenuar a desigualdade
Enviar um comentário
<< Home