12.10.18

Manual de Boas Maneiras em Desuso

Por Joaquim Letria
Parece ser moda ninguém se apresentar nem apresentar quem o acompanha. Aquilo que nos ensinaram quando éramos crianças, que não se deve falar a estranhos,  teve contrato a termo certo e há muito que não está em vigor.
Mas reconheça-se que há alguns que fazem um esforço e julgam cumprir a mais elementar regra de boa educação apontando-nos a madama que trazem ao lado e proclamando “esta é a minha senhora”. Normalmente são aqueles que na ausência da “minha senhora” se referem a ela como “a minha esposa”.
Naturalmente que quem assim procede desconhece o ardil do plebeísmo em que está a cair, muito mais grave do que aquele que incorre quem quiser beijar uma amiga nas duas faces, porque se Jesus oferecia a outra face à bofetada, estas recusam o nosso segundo ósculo fraterno para parecerem – julgam elas – menos suburbanas. Nisto de saudações beijoqueiras sou adepto dos russos que continuam a dar quatro beijos, dos franceses que nunca desistiram dos três beijos e das nossas senhoras mais seniores ou do povo que são fiéis ao tradicional par de beijos, um em cada face.
Uma apresentação correcta não pode andar muito longe desta: ”João Silva, que é meu colega na empresa e a Julia que é a minha mulher”. É evidente que o ideal seria : “ Julia, conheces o João Silva que é meu colega na empresa?” Assim, ambos, Julia e João ficariam encantados e ninguém atropelava o bom gosto nem danificava as boas maneiras fossem de quem fossem.
Quem normalmente apresenta “a minha senhora” também nunca apresenta as pessoas com nome e apelido. “É a Vanessa e o Donald”. Mas nem a Vanessa nem o Donald em questão devem ser tão famosos que já ouviram falar de um e do outro a ponto de não necessitarem de sobrenome, a menos que se trate da Vanessa Redgrave e do Donald Trump, mas neste caso penso que ela não teria muito interesse em que lhe apresentassem o cavalheiro.
Diga-se em abono da verdade (verifico isto consultando os nomes das minhas alunas)  que as Vanessas agudizam o problema. Às Vanessas seguem-se as Tânias, as Carlas e as Sónias Cristinas, todas antes de uma lista mais completa de nomes em voga onde não poderiam deixar de figurar as Tâmaras, as Marisas, as Luanas e as Déboras.
Penso que a melhor maneira de castigar esta gente é deixar de lhe beijar a mão, o que não se aperceberão por este hábito estar em desuso. Hoje em dia só se beija as mãos aos padres e bispos. Mas não tenho dúvidas de que o desprezo social ensina mais do que um manual de boas maneiras.
Publicado no Minho Digital

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2 Comments:

Blogger opjj said...

Meu caro, não concordo muito consigo,é que eu não vejo andarem a beijar mãos de padres e bispos. Últimamente o único caso que eu vi foi o nosso presidente Marcelo.
Cumps.

12 de outubro de 2018 às 19:25  
Blogger Ilha da lua said...

Pena,o manual de boas maneiras estar em desuso ...

13 de outubro de 2018 às 02:09  

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