A TV que querem que a gente veja
Por Joaquim Letria
Uma boa parte da minha vida profissional em Inglaterra e Portugal foi passada a produzir, editar e apresentar notícias, debates e entrevistas na rádio e na televisão. Felizmente que não me fiquei só por aí, mas quase 20 anos de audiovisual e um conhecimento experimentado do que é Política e Comunicação autorizam-me a falar-vos acerca da nossa TV, ainda que não me considere um crítico encartado.
Não vou perder tempo a analisar este meio que vai a caminho da extinção. Hoje, abaixo dos 30 anos de idade, já ninguém vê televisão, as notícias estão nos telemóveis e os mais velhos refugiam-se no cabo e nas séries para escapar do castigo que as estações portuguesas nos inflingem. No meu caso, para saber o que se passa, vejo a BBC, a Al Jazeera, o Russian Times, a France24, os venezuelanos, os cubanos e o ISNews dos israelitas. Os americanos, com quem tanto trabalhei e aprendi, não valem hoje a pena de perder tempo com eles. E não é pelas “fake news” do Trump…
Gostaria de vos falar hoje da promiscuidade entre os partidos, os políticos, os jornais e as estações de rádio e TV que nos impede de ter uma visão imparcial e credível da vida política nacional e do que se passa nas relações internacionais. As notícias, fornecidas em telejornais de hora e meia e duas horas, misturadas com festivais de culinária, notícias do entretenimento e mais futebol, são comentadas e esclarecidas por mãos cheias de políticos.
Ora vejam só quem são os comentadores das nossas três estações de televisão:
Manuela Ferreira Leite, Luís Marques Mendes, Paulo Portas, Fernando Medina, Carlos César, Marisa Matias, Francisco Louçã, Fernando Rosas, Santana Lopes, José Miguel Júdice, Rui Pereira, Morais Sarmento, Bagão Félix, André Ventura, Jorge Coelho, Lobo Xavier, Pacheco Pereira, Hélder Amaral, Bernardino Soares, José Eduardo Martins, Francisco Assis, Silva Pereira, etc.,etc.. Estes são apenas alguns dos políticos avençados e bem pagos pelas nossas TVs para em horário nobre ajudarem a formar a opinião pública.
Permitam-me que pergunte onde está a opinião independente e séria que nos é devida, para além daquela que nos chega da Manuela Moura Guedes, Ana Leal, Sousa Tavares, Sandra Felgueiras e ainda de mais uns quantos cuja independência escorre pelos fios da teia que disfarçadamente os liga aos partidos, através da qual são marionetas nas TVs, rádios e jornais e por toda a parte por onde vendem o peixe que lhes mandam vender.
Eu, que sou discípulo e admirador de Sir Robin Day, e muito aprendi com David Frost, Johnny Carson e Michael Parkinson, pergunto onde está aquilo que nos é devido pela informação das TVs portuguesas. E fujo para as séries da Netflix e as entrevistas do Hard Talk na BBC ou do Larry King no Russian Times a fazer hoje interessantes entrevistas tal qual fazia na CNN.
Publicado no Minho Digital
Etiquetas: JL
2 Comments:
Bravo, caro Joaquim Letria.
Sou dos que deixaram de ver televisão. Não lhe sinto a falta. E gostaria de saber por que raio sou obrigado a financiar uma tv pública que é tão má quanto as privadas. Muitas das caras que refere são-me insuportáveis, pela propaganda que fazem. Não sabia que eram assim tão bem pagos. Pensei que Marques Mendes, por exemplo, andaria ali a tentar fazer-se notado para uma possível candidatura à presidência da república. Os outros, na sua maior parte, pensei que obtivessem retribuições directas ou indirectas de interesses próprios ou de terceiros...
São poucos os comentadores descomprometidos com os partidos.Mas,estes,muitas vezes também comentam em função dos temas apresentados pelos jornalistas,que conduzem ou manipulam o comentador.Os outros,os políticos,comentam de maneira “a levarem a água ao seu moinho””... Tudo muito pobre...sempre,mais do mesmo
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