18.11.18

A percentagem do IVA

Por Antunes Ferreira
Corre por aí uma polémica que considero estapafúrdia – a que diz respeito à percentagem do IVA a aplicar às touradas ou corridas de touros (deixo aos interessados o livre alvedrio da escolha) – que já motivou inclusive alguma confusão dentro do Partido Socialista. Ora se mo permitem (e mesmo que não mo permitam) vou meter aqui a minha colher porque a bem da verdade não se trata de questão entre marido e mulher…
Os meus progenitores, o sr. Henrique Silva Ferreira e a dona Glória Hermínia Prata Antunes eram aficionados, diria mais, aficionadíssimos. Tourada a preceito era tiro e queda, fosse ela a normal, fosse aquela à portuguesa. Seguiam-nas quase todas aqui e no país vizinho, normalmente atrás da estrela maior do toureio português, o célebre Manuel dos Santos, natural da Golegã, que tinha como apoderado o sr. Patrício Cecílio (que diziam as más línguas era o pai putativo do rapaz)
O meu pai era regente agrícola pela Escola Agrícola de Santarém e, vejam lá, forcado do Grupo de Amadores da mesma cidade, o seja o Grupo de Forcados Amadores de Santarém e tinha a especialidade de cernelheiro isto é pegava os cornúpectos de cernelha com outro camarada. Era então o cabo do grupo um homem que ficou para a história dele de seu nome António Abreu.
Um dia, tinha eu doze anos, o meu pai levou-me à estalagem Gado Bravo, ali na Recta do Cabo na outra margem em plena lezíria ribatejana, local de reunião de aficionados tauromáquicos, que possuía um tentadeiro anexo. Nele decorria uma garraiada com uma pequena novilha (quiçá de mama…) no redondel e muita rapaziada que iam tentando pegá-la ou novilhá-la com mais ou menos sucesso. O pai Ferreira disse-me então para ir também para a praça e ensaiar os dotes que sabia que eu tinha para a pega e citou – estou a relembrar a cena como se fora hoje – filho de peixe sabe nadar! Queria ele dizer na sua filho de pegador de touros à unha sabe pegar!
Porém quando eu lhe respondi muito envergonhado e enfiado que não senhor, não ia, que o bicho tinha dois paus na cabeça (na altura não dizia cornos na frente do meu  progenitor) a tristeza com que recebeu a minha cobarde negativa ainda hoje a tenho bem viva diante dos olhos.
Daí a qualificativa estapafúrdia que empreguei sobre a polémica que corre sobre a percentagem do imposto sobre o alor acrescentado. Ainda se fosse sobre a proibição ou a continuação da actual situação poderia ter algum significado. Que me desculpe o PAN mas tenho de fazer a pergunta calina: então e Barrancos?

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1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Em 1964, os finalistas do Liceu Camões fizeram um almoço e uma garraiada nesse Gado Bravo.
Tantos anos depois, ainda me lembro bem!

18 de novembro de 2018 às 10:35  

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