20.11.18

UMA TRISTEZA E UMA VERGONHA

Por A. M. Galopim de Carvalho
Que infelicidade caiu sobre uma significativa parcela do nosso povo, que rejeita, com o sorriso da ingenuidade ou da iliteracia, tudo o que convide a pensar, a reflectir, com verdadeiro conhecimento de causa, sobre o mundo que o rodeia. Um mundo, tantas vezes, nas mãos de políticos incompetentes e oportunistas de que a nossa sociedade está cheia, onde, de há muito, impera o vírus do futebol profissional e, agora, o dos admiráveis, tentadores e universalíssimos smartphones.
Uma parcela que bebe toda a alienação que lhe é servida de bandeja por uma comunicação social, em grande parte, prisioneira de interesses ligados ao grande capital?  
No que respeita o nível e exigência de ensino nas nossas escolas, não aprendemos nada com o ideal da Instrução Pública posto em prática na primeira República.No preâmbulo do Decreto de 29 de Março de 1911, lê-se  “Portugal precisa de fazer cidadãos, essa matéria-prima de todas as pátrias”. Cidadãos, diga-se, no verdadeiro sentido da palavra, tal como os gregos antigos a criaram nas suas“polis” (as cidade-estado, comoAntenas, TebasEspartae outraspara referir ospolítikoi”ou seja, os homens livres e iguais,verdadeiros protagonistas da demokratia”(palavraconstruída a partir dos elementos“demós”, povo, e “kratós”, poder) que ali se viveu e onde a fomos buscar. Foi, ainda, na Grécia que, por volta do século VI a.C., nasceuphilosophia”, outra palavra que anda na boca de toda a gente, mas que nem todos sabem que quer dizer “gosto ou amor pelo saber”, e que foi criadacom base nos elementos “philo“ (amor, gosto, interesse) e “sophia” (saber, conhecimento).
Não são, pois, polítikoi”, isto é, cidadãos no verdadeiro sentido da palavra,os mais de 50% de portugueses que se abstém de exercer o dever cívico votar, um acto elementar em demokratia”.
Não aproveitámos nada da verdadeira liberdade, em democracia, que nos foi oferecida, de mão beijada, pelos capitães de Abril. Mais de quatro décadas, em que o “gosto pelo saber” foi institucionalmente substituído pela preocupação das estatísticas, visando o “sucesso escolar”. Recuámos, mesmo, em relação ao tempo de Salazar e Caetano.
Neste quadro decepcionante todos perdemos. Perdem os professores, maltratados e amarrados que estão a ditames que não controlam, perdem os alunos e, em consequência, perdemos todos e perde Portugal. 
Uma tristeza e uma vergonha
Lisboa, 18 de Novembro de 2018

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1 Comments:

Blogger Ilha da lua said...

Subscrevo,completamente,este texto do Professor!

20 de novembro de 2018 às 12:47  

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