Black Friday, Hospitais em Saldo
Por Joaquim Letria
Em Fevereiro, esperei 50 minutos só para pagar uma consulta dum quarto de hora num hospital privado de Lisboa, a qual conseguira que me fizessem o favor de agendar mês e meio antes, e na qual me mandaram fazer uns exames que me marcaram para a última semana de Março, devendo ser-me fornecido o resultado em meados de Abril, o qual deverei mostrar em nova consulta que ficará para 21 de Maio. Depois logo se verá, com o Verão à porta, se aguento até ao outono ou se bato a bota e o médico vai de férias.
Perguntei à minha médica de família, quando a apanhei entre um cruzeiro pelas Caraíbas e um congresso no Sul de Itália, pagos por uns novos comprimidos e uma pomada milagrosa, se valia a pena fazer aqueles exames no SNS. Respondeu-me que nem pensar, pois ali podia esperar dois anos.
Explicou-me uma funcionária do caro e luxuoso hospital privado onde me cuidam do cadáver que a culpa desta situação e o caos que se verifica nos balcões e nas máquinas de senhas se devem aos estimáveis funcionários públicos que com medo do fim da ADSE se atiram ao melhor que por aí há de hospitais como as madamas correm para os saldos e as meninas para a “Black Friday”, entupindo os serviços privados como acontece com os comensais de rodízios, brunches e almoços buffet .
No meio disto tudo, fiquei muito contente quando me disseram que a Galiza está a oferecer quase 5 mil euros de salário aos médicos portugueses em início de carreira que ali queiram trabalhar, o que representa quase o dobro do salário a que aqui podem aspirar e a Irlanda oferece a médicos de família 11 mil euros por mês.
Fico contente porque, antes de tudo, gosto muito dos galegos e dos Irlandeses. Depois, porque aprecio muito os médicos sérios e competentes, sejam de que nacionalidade possam ser, alguns dos quais já me salvaram o coiro e fazem com que eu esteja bem e cada vez mais velho. E depois, porque no meio da pouca vergonha que por aí vai, alguém há-de explicar ao fulano do défice e à serigaita do ministério que não há nada mais importante do que a saúde dos portugueses e o bem–estar, a confiança e a felicidade de todos eles, entre os quais se contam os médicos e os enfermeiros.
Publicado no Minho Digital
Etiquetas: JL
5 Comments:
Só o Joaquim Letrista podia escrever uma crónica como esta! Algo vai mal com a Saúde em Portugal.Tudo o que se constrói (e,é bom) deve ser mantido,cuidado,preservado O SNS,foi das melhores conquistas da revolução de Abril,e,como tal,devia ser olhado com mais atenção! O mundo mudou,as circunstancias hoje são diferentes da época em que foi fundado Certamente,precisará de ser repensado e reestruturado Para bem de todos os cidadãos. Espero,que ultrapasse com êxito o seu problema se saúde
Cuide-se caro Letria, porque merece e nós precisamos muito de ler os seus textos.
A saúde em Portugal anda como tudo o resto. Suponho que as culpas estarão bem repartidas entre políticos e governantes, por um lado, e o grosso dos cidadãos, por outro, sendo que estes, se pudessem, não se distinguiriam por praticar menos trafulhices e irregularidades que aqueles.
Donde, temos o país que merecemos.
Faço uma pergunta simples. Porque razão para ir a uma consulta de especialidade hospitalar temos de ir primeiro ao médico de família pedir a consulta e temos de pagar. Depois vai-se ao hospital e volta-se a pagar.
Quando se espera por operação ás cataratas 11 meses, bem temos de ser pacientes.
Cumps.
Agradeço todos os vossos votos de boa saúde. O modelo é bonito mas o motor e a chapa começam a mostrar os anos e, acima de tudo, os quilómetros são muitos.Cumprimento o OPJJ. Os médicos de família são uns amigos dos laboratórios. E como os medicamentos passados por eles nos saem mais baratos, a gente embarca.
Mas olhem que os privados (Luz e Cuf) não estão melhores! Abraços do Joaquim
Caro Joaquim Letria, eu fui operado na LUZ entrei num dia e saí no outro, embora muito combalido.
Eu sempre digo; enquanto houver por onde escolher estamos bem.
Cumps.
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