Miami cheia de Coutinhos
Por Joaquim Letria
Desde os anos 60 que sou fan de Miami, cidade encantadora com condições únicas para nela se viver ou simplesmente visitar.
Estive em Miami, pela primeira vez, em 1962, era aquilo um fervilhante e apaixonante pote de antigos gangsters, cujo papa teria sido o famoso judeu Meyer Lansky, torcionários de Baptista a fugirem da Revolução cubana e uma classe alta hispânica que procurava a ajuda dos Estados Unidos para regressar aos privilégios únicos da ilha de Cuba.
Todavia, a grande maioria daqueles que em Miami ocupavam hotéis, motéis, casas fabulosas e iates de nos cortar a respiração eram as estrelas famosas do crime, do cinema, da banca, da política e da indústria americana que faziam da Florida um paraíso e de Miami uma festa. Desde então, sempre que tenho dinheiro para isso ou uma qualquer desculpa profissional, eis-me em Miami a apanhar sol, a comer em restaurantes cubanos e a passar horas dentro daquela água verde e quente.
As duas primeiras vezes que estive em Miami fiquei num dos meus hotéis favoritos, o Fontainebleu, um dos melhores do mundo. A partir da terceira vez comecei a descobrir pequenos hotéis, residenciais, motéis, sempre ao longo da Collins ou Lincoln Avenues, ou seja, seguindo por sistema a linha de praias públicas onde podemos disfrutar dos mesmos prazeres que encontramos na praia do Fontainbleu. E aprendi a viver barato em Miami, com a legião de reformados judeus que todos os anos fugiam do frio e da neve de Nova York ou da Costa Leste para o Verão eterno da Florida.
Encontro-me de regresso de Miami, a tempo de votar nas eleições europeias. Agora já não fico em motéis ou residenciais onde dantes aprendi a viver quase dentro dos guias de Arthur Frommer, um popular livro turístico que nos ensinava a viajar barato, dando-nos dicas sobre onde ir e não ir. Ainda tenho presente o livrinho “MIAMI FIVE DOLLARS A DAY”. Mas hoje sigo outra táctica que me deixa a viver na Florida muito mais barato do que no Porto.
Os judeus sempre me ajudaram muito quando tenho de poupar, e assim passei a ficar no hotelzinho, sobre a praia, onde pernoitam as tripulações da EL Al, dos vôos diários Tel-Aviv – Miami. Nada de extraordinário, mas um prazer, com cancela para a praia.
Enfim, votei, fiquei triste com a abstenção e preocupado com certos aspectos dos resultados. Eu tinha vindo nove horas no vôo directo e excelente da TAP a ver filmes e a pensar em coisas da vida. E sorri para mim próprio quando me lembrei que Miami teria centenas de Coutinhos para abater se os políticos, os paisagistas e os artistas americanos e hispânicos não tivessem sabido criar uma “little Havana” e transformado áreas problemáticas em verdadeiras obras de arte. Só faltaria, penso eu a escrever esta crónica, o Manso Preto publicar alguma notícia sobre novas investidas contra o Coutinho ou eu vir a saber pelo JN ou pela televisão que estavam a voltar à vaca fria. Não acredito que tal seja possível!
Em vez de derrubarem edifícios transformam-nos em obras de arte visitados por milhares de turistas que percorrem essas ruas de autocarro.
Etiquetas: JL
1 Comments:
A imaginação e a criatividade fazem parte do progresso ...Transformar ,em vez de destruir...são atitudes extremamente actuais Mas, para isso precisávamos de autarcas bem preparados
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