Vaticano – O Papa e o aborto
Por C. Barroco Esperança
Quando se procuram sinais positivos de uma Igreja, especialmente através do seu líder, e se cria uma imagem favorável, a realidade acaba por desiludir.
O atual Papa católico, Francisco, que teve a coragem de condenar a pena de morte, que persistia no catecismo romano, que humildemente se interrogou sobre o direito de julgar comportamentos que o clero mais jurássico considera pecados graves, acaba por assumir uma inaudita intolerância contra as mulheres, na linha dos antecessores.
A condenação dos meios precoces de diagnóstico pré-natal, se tiverem em vista a IVG nos casos de malformações, não é apenas um caso de insensibilidade masculina, é uma opção que compromete a saúde da grávida e a obriga a carregar fetos teratogénicos.
A condenação da IVG, em qualquer circunstância, mesmo em caso de violação, incesto, risco de vida da mãe e malformação fetal, revela a insensibilidade de que só os clérigos são capazes. É o delírio misógino das sotainas contra as mulheres.
O Papa Francisco é contra o aborto por malformação do feto: “Será lícito contratar um assassino para resolver um problema?”– pergunte ele –, e apela aos médicos para se recusarem a interromper a gravidez, em qualquer circunstância.
O Papa condena a IVG, sem remorso nem vergonha, perante grave e irreversível lesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida; quando há motivos seguros para prever que o nascituro virá a sofrer, de forma incurável, de grave doença ou malformação congénita; quando há a certeza de que a gravidez resultou de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual da mulher.
Grave não é o que pensa o Papa ou o que, a esse respeito, decida cada mulher, alheia ao sofrimento próprio e do filho que gera, perigoso e inaceitável é impor, através de leis, a violência do preconceito, a maldade da crença e a crueldade da alegada vontade divina, de que se julga intérprete, a quem recuse ou não possa suportar tal fardo.
Se o aborto fosse masculino, o bairro de 44 hectares de celibatários, de conduta suspeita e duvidosa sensibilidade, talvez o elevasse a sacramento, mas como a vítima é sempre a mulher, a misoginia dos dignitários do único Estado mundial sem maternidade, ignora a humanidade e o mais elementar respeito pela decisão da vítima.
A este Papa não se aceita a sintonia com a Liga, de Salvini, à semelhança do patriarca Clemente com a coligação Basta, de André Ventura.
As Igrejas permanecem cruéis e veículos de retrocesso civilizacional.
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2 Comments:
CBE. Quero começar por dizer-lhe,que leio todos os seus artigos.Respeito o seu ateísmo ,como respeito, qualquer religião ,desde que estas não interfiram na política dos estados. O papa Francisco é um humanista que veio trazer uma enorme esperança aos homens no que se refere à tolerância e à justiça social No entanto é o chefe de uma religião que tem a sua doutrina ,os seus dogmas,os seus mandamentos, em que ele acredita, piamente, e procura transmiti-los aos seus fiéis Por isso nunca tive a ilusão de que este papa alterasse a posição da Igreja relativamente ao aborto! Ninguém é obrigado a ser católico,e,quem segue esta religião, conhece a sua doutrina,e,sabe,que não a vai mudar no seus princípios fundamentais É uma posição, que posso discordar, mas que pertence ao foro religioso ,e ,não interfere com as leis dos estados laicos e democráticos
Ilha da Lua:
Até na consideração pelo Papa Francisco estamos de acordo, mas tenho total discordância quando afirma : «É uma posição, que posso discordar, mas que pertence ao foro religioso ,e ,não interfere com as leis dos estados laicos e democráticos».
A interferência com as leis dos Estados é o facto que me preocupa e a que venho a assistir. Veja o que sucede em países da América do Sul, nas Filipinas e até nos EUA. O retrocesso civilizacional, por um fundamentalismo religioso, não é exclusivo do Islão. O catolicismo, com os dogmas, alguns recentes, é, na minha opinião, responsável por esse retrocesso.
Talvez não seja por acaso que o Estado do Vaticano seja uma criação de Mussolini a quem o Papa de turno chamou «Enviado da Providência». Não é a fé dos crentes que me preocupa, e cujo direito ao culto defendo, preocupam-me as consequências a que todos ficamos obrigados, crentes e não crentes.
Obrigado pela sua paciência para comigo e pelo espírito crítico que manifesta.
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