MISTER CATARINA
Por Joaquim Letria
Confesso-me freguês das séries da RTP2.Foi aí que há uns meses vi uma interessantíssima série norueguesa (os nórdicos têm cada vez mais qualidade) cuja história era uma mulher que treinara equipas femininas de futebol e, de repente, recebe um convite dum clube da primeira divisão para ser treinadora da sua equipa principal.
Esta é a linha mestra e muito interessante da história da série que mostrava episódios muito bem feitos onde se via , para lá das rotinas dos jogos e dos treinos dirigidos por uma mulher, num lugar sempre e só ocupado por homens, toda a complexidade da função, neste caso envolta nas dificuldades que naturais preconceitos geram, a nível de equipa, jogadores, estrutura do clube, accionistas e, sobretudo, adeptos e claques, incluindo também os adversários, todos eles ainda dominados por preconceitos e sentimentos a serem ultrapassados.
Achei uma bela ideia, gostei da realização e da direcção de actores e pronto, não falaria mais nisso, julgava eu, depois de ter guardado na memória esta série que se chama “Jogar em Casa” e que era protagonizada pela Helena Mikkeison, uma óptima actriz. Mas eis-me a falar nisso porque a realidade superou a ficção, e logo em Portugal!
Catarina Lopes aceitou comandar os homens da primeira equipa do Beneditense (da Benedita) que disputa o campeonato distrital de Leiria, tornando-se na primeira mulher portuguesa a desempenhar tais funções e, certamente, a tornar-se uma raridade na Europa e no mundo. E aí a temos a mandar numa molhada de matulões…
É a primeira mulher que ocupa estas funções numa equipa dos campeonatos nacionais. E eu interrogo-me sobre como é que os seus jogadores lhe chamarão. Mister Catarina ou Mister Lopes? Ou na linguagem do nosso futebol vamos passar a ouvir também Miss e Mrs.?
Um dia destes vou à Benedita ver um jogo da equipa da Catarina. Gostaria que ela subisse o Beneditense de divisão, que lhe confiassem um clube mais visível e adoraria vê-la a mandar num clube da Liga. A sério! Quanto mais não fosse para demonstrar uma vez mais, e para sempre, que ninguém trava as mulheres e que a realidade tem, muitas vezes, muito mais imaginação do que a ficção.
Publicado no Pasquim da Vila
Etiquetas: JL
1 Comments:
Na segunda década do século XXI, deveria ser encarado com naturalidade o facto de uma mulher exercer funções habitualmente desempenhadas pelos homens Mas,assim não acontece Vivemos num país, ainda bastante machista, onde as mulheres têm que superar muitos obstáculos para atingirem os seus objectivos profissionais É espantoso, como nesta fase do campeonato, a treinadora Catarina seja a primeira mulher a ocupar esta função
Enviar um comentário
<< Home