10.5.19

Os Chibos são uns heróis

Por Joaquim Letria
Guardo a imagem da Dra. Ana Gomes em pose com o rapazinho Rui Pinto a quem foi entregar o prémio europeu de melhor bufo.
Estes bufos, agora, são chamados “whistlle blowers”, literalmente “os sopradores de apitos”, ou utilizando o nosso calão tradicional, aqueles que “põem a boca no trombone” denunciando pessoas e situações com contrapartidas por parte de quem os quer ouvir, negociando com as autoridades, no caso de terem sido apanhados a praticarem crimes Se falarem não serão condenados ou dão-lhes uma pena levezinha.
Rui Pinto tentou abotoar-se com uma pipa de massa e húngaros, alemães e franceses já o tinham abarbatado, mas ele trocava tudo por bufar estes e aqueles com o que diz que sabe, e diz que sabe muito.    
Quando havia actividades políticas contra a ditadura, na clandestinidade, falar na polícia, mesmo sob tortura, era bufar. Alguns não aguentaram a brutalidade da tortura física, ou iam-se abaixo com golpes psicológicos, ou sucumbiam às alucinações provocadas pela tortura do sono e os seus camaradas puniam-nos com o desprezo e o ostracismo de que não se recuperava.
” Fulano falou!” A gravidade de falarem é que metiam outros camaradas na cadeia e destruíam as estruturas da luta, montadas com grande sacrifício e trabalho, além da moralmente imperdoável colaboração com o inimigo contra os seus.
Hoje, que não há presos políticos em Portugal, o bufo perdeu a antiga identidade que tivera na ditadura. Bufos também eram todos os que iam denunciar colegas de trabalho, homens e mulheres que interessassem às polícias, conversas de café, suspeitas infundadas, etc. Mas no mundo daqueles que fogem à justiça, mas mantêm códigos de honra (ainda há quem os tenha), bufar é chibar e um bufo passou a ser um chibo, merecedor do mesmo desprezo devido aos bufos de antigamente.
Mas hoje, polícias, magistrados e políticos, mesmo os que se dizem democratas, estão de acordo que é mais fácil prender para investigar do que investigar para prender. E desse esquema faz parte aquilo que todos eles chamam de “delação premiada”. Ou seja, aquilo que a Ana Gomes anda alegremente a premiar.
Uma coisa são os casos de Assange e Snowden, que tiveram a coragem de revelar ao Mundo grandes crimes contra povos e contra a humanidade, correndo o risco de serem presos ou mortos. O resto são estes rapazinhos que puserem a boca no trombone, mesmo com inverdades, contra quem queremos ou nos convém.  A esses, a gente dá-lhes um prémio e chama-os de heróis.
Publicado no Minho Digital

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3 Comments:

Blogger Dulce Oliveira said...

O mundo está a ficar um lugar estranho

10 de maio de 2019 às 13:07  
Blogger opjj said...

Este seu artigo não e muito feliz. Um rapazinho com um Q.I. altamente deveria ser admirado. Metê-lo na cadeia? Tanta dor de cotovelo.É mais normal e sensato gente a abotoar-se.
Naquele tempo queriam trocar um regime por outro pior. Eu fui dentro.

Cumps

11 de maio de 2019 às 18:12  
Blogger José Batista said...

Concordo, caro Letria.
Ana Gomes não me parece sempre clara no que pretende, se é que sabe sempre o que pretende. Será (alguma forma de) clubismo? Pergunto, mas não que me interesse a resposta.

11 de maio de 2019 às 22:38  

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