Luther King a lutar contra a despromoção
Por Joaquim Letria
Vamos conversar sobre futebol para não cairmos na fantochada da política e deslizarmos para a armadilha das eleições europeias. Mas também podem estar descansados que não vou atraí-los para os escândalos das arbitragens nem para o fim do campeonato nem para a final da Taça de Portugal. Vou chamar-lhes a atenção para aquilo de que ninguém fala e nos pode fazer sorrir.
Raramente tenho paciência para assistir a um jogo inteiro de futebol pela televisão, e ir ao estádio, que era o que durante muitos anos eu fazia e apreciava, deixou de ser uma hipótese a considerar por causa do incómodo e excitação dos doentinhos da bola. os fans dos verylights e a selvajaria das claques.
Assim, passei a ver os resultados no telemóvel e os resumos na TV, quando me lembro, e ocasionalmente escuto os relatos dos jogos pelas rádios. E confesso que este é o meu meio preferido, porque os relatores conseguem criar uma excitação e um prazer com o entusiasmo dos seus relatos que aqueles jogos sem interesse nenhum que vemos pela TV até parecem animados e entusiásticos.
É precisamente através destes relatos que me dei conta dos nomes e pseudónimos que muitos jogadores adoptaram assim me surpreendendo como aconteceu no fim de semana passado quando descobri que Luther King luta num clube português por não descer de divisão e Jefferson tem estado lesionado mas alinha orgulhoso na equipa principal do Sporting.
Conheço muitos casos de jogadores que adoptam os nomes de grandes figuras antigas do futebol. Por isso ouvimos vários Pelés a jogar em diversos campeonatos, a transalpina glória do antigo Pizzi a alinhar pelo Benfica numa versão mitigada e há pelo menos um ou dois Platinis a jogarem por aí. A coragem ainda não chegou a Maradona, Messi ou Ronaldo, mas vão ver que será uma questão de tempo. Agora grandes figuras da História e da Humanidade, como é o caso de Luther King, é uma surpresa e faz-nos recear o aparecimento de muitas outras grandes figuras. Que tal um campeonato recheado de Gandhis, Mandelas, Mao Tse Tung e Churchills? E Estaline e Trotsky a alinharem na segunda divisão, e Marx, Engels e Lenine a naturalizarem-se para poderem jogar na nossa selecção e Rosa Luxemburgo a alinhar pela equipa feminina do Sporting de Braga, actual campeã nacional?!
Esta delícia é mais detectável na Rádio do que na TV ou nos jornais. Por isto também prefiro os relatos radiofónicos. A gente sabe que muitos destes nomes também têm origem nas favelas e nos bairros problemáticos da América Latina onde os pais alimentam os maiores sonhos para o futuro dos seus filhos, enquanto outros vêm da admiração por certas figuras. Há por aí uns Adolfos de quem a gente desconfia, mas não há nenhum Nasser, Sadat, Sadam ou Gadhafi. Enfim, se prestarem a mesma atenção aos nomes dos jogadores de futebol que os viciados nas apostas dedicam aos nomes dos cavalos podem encontrar alguns motivos para apreciarem ainda mais os nossos campeonatos e ligas de futebol.
Publicado no Minho Digital
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