7.6.19

O QUE VALE A PENA SABER SOBRE A PRAIA

Por A. M. Galopim de Carvalho
Estamos no tempo de praia e são muitos os que fruem o descanso e o prazer que nela encontram, mas que desconhecem as razões da sua existência, o porquê da sua natureza, os processos naturais que nela ocorrem e a regulam, o que são a areia e os seixos, de onde vêm e porque estão ali.
A praia é uma das duas formas de litoral, a outra é a arriba ou falésia (um francesismo já bem radicado em português). Comecemos por lembrar o que diz a geografia sobre este “Onde a terra se acaba e o mar começa”, como o descreveu Luís de Camões, nos Lusíadas.
Litoral (do latim “lituralis”, com o mesmo significado) é, se quisermos usar uma linguagem figurada, mas suficientemente expressiva, a linha resultante do diálogo permanente entre a terra e o mar. Neste diálogo, ou vence o mar e o litoral é de erosão, rochoso, alcantilado, em recuo, exemplificado pelas arribas dos nossos Cabos Mondego, Espichel ou de Sagres, ou vence a terra e é o mar que recua. Neste caso, o litoral é dito de acumulação, exemplificado pela praia, geralmente de areia, como são a maioria das praias portuguesas,
 mas, em algumas situações, de cascalho, seixos ou calhaus (três modos de referir os clastos mais grosseiros), no geral arredondados pela abrasão, como é a Praia do Belinho, em Esposende. 
Na sequência desta regressão do mar, a arriba fica liberta da erosão das vagas, passando a evoluir em ambiente subaéreo, até adquirir um perfil de equilíbrio ditado pela sua natureza e pelas condições climáticas ambientais. Facilmente reconhecíveis na paisagem, estes testemunhos de antigos litorais são classificados como “arribas fósseis”. Entre a Costa de Caparica e a Lagoa de Albufeira desenha-se uma destas relíquias (classificada como Paisagem Protegida, Dec. Lei n.º 168/84, de 22 de Maio), razoavelmente preservada, entre os muitos exemplos existentes ao longo da costa portuguesa.
A praia é, na maior parte dos casos, uma acumulação precária de areia e/ou cascalho, representando um ambiente onde o binómio morfologia-sedimentação se caracteriza por grande instabilidade. Qualquer modificação natural ou artificial introduzida na morfologia da praia ou no seu conteúdo sedimentar (areias e, eventualmente, cascalho) tem reflexos no balanço erosão-sedimentação.

No sentido mais amplo, a praia é a faixa do litoral arenoso (algumas vezes de calhaus) exposta às vagas, estas com crescente dissipação de energia no sentido do mar para a terra (na medida em que a profundidade diminui).
Este tipo de litoral compreende um domínio submarino e outro subaéreo. A “praia imersa” descobre-se na baixa-mar durante as marés vivas e corresponde ao domínio sublitoral, inframareal ou infralitoral. Neste domínio, o perfil do fundo mostra, do mar para a terra, um talude, bancos de rebentação e uma faixa de espalho da onda. Para o largo segue-se o domínio circamareal ou circalitoral, na transição para a plataforma continental (offshore) onde só a ondulação de tempestade tem efeito dinâmico sobre o fundo. A “praia emersa” corresponde ao domínio supramareal ou supralitoral, só ocupado por altura das marés vivas e durante as tempestades.
A praia propriamente dita (em sentido restrito) corresponde ao domínio intermareal ou interlitoral. Dela faz parte a face da praia, ocupada pela rampa de espraio e de ressaca (situada acima da faixa de espalho da onda), onde se consome grande parte da sua energia após a rebentação. A esta sucede-se o espraio de uma certa massa de água, que avança sobre a face da praia à chegada da crista, a que se segue a ressaca ou recuo, que corresponde à chegada da cava.

Etiquetas: