11.7.19

As eleições gregas e a arrumação eleitoral

Por C. Barroco Esperança
Nos países de religião Cristã Ortodoxa a fraqueza dos Estados deve-se em larga medida à influência clerical da mais política das religiões cristãs. As Igrejas protestantes e a católica, influenciadas pelo direito romano, são civilistas, as Ortodoxas, russa e grega, são tributárias de um direito político, como a muçulmana o é do direito teocrático.
O Syrisa chegou ao Governo depois do colapso do sistema financeiro mundial e cansaço da sucessão dinástica das duas famílias políticas que, fora das ditaduras dos coronéis, se alternavam no poder, no Pasok e Nova Democracia. Esta regressou agora e não lhe falta o pedigree familiar e a bênção do clero que eram também apanágio do Pasok.
Houve duas surpresas, a primeira, como referi na análise sem a contabilidade eleitoral fechada, foi a recuperação do Syrisa da pesada derrota das eleições europeias com a sua institucionalização como o partido da oposição, apesar de ter frustrado as promessas eleitorais e se tornar um partido social-democrata, ou talvez por isso; a segunda foi o regresso do ex-ministro das Finanças ao Parlamento, após a cisão que o fez demitir-se do Governo e do partido, arrastando numerosos intelectuais e quadros que se tornaram politicamente irrelevantes.
São ainda relevantes a ausência parlamentar do partido neofascista Aurora Dourada e a parca expressão eleitoral do partido de extrema-direita, Solução Grega (10 deputados), a que não será alheia a inclusão de Adonis Georgiadis, como vice-presidente na Nova Democracia, do ex-partido LAOS, conhecido pelo seu antissemitismo.
O Syrisa saiu das eleições em boas condições para regressar ao poder, depois de ter sido vítima da humilhação e crueldade do FMI e da UE, com o vergonhoso apoio do governo Passos/Portas, de ter gerido a crise sem precedentes e assinado um acordo sobre o nome de Macedónia do Norte, pragmatismo que acordou rancores nacionalistas. A atribuição de 50 deputados ao partido mais votado, que já favoreceu o Syrisa, esconde a verdadeira geometria eleitoral de um sistema que parece caminhar para o bipartidarismo.
Aqui ficam os resultados eleitorais para que cada leitor possa tirar as suas conclusões:
Comunistas – 15; MeRA25 (Varoufakis) – 9; Syrisa – 86; KINAL (Movimento para a Mudança, novo partido saído das cinzas do derrotado PASOK) – 22; Nova Democracia – 158 (bónus de 50 deputados); Solução Grega (extrema-direita) – 10.
Finalmente, regista-se a natural urbanidade democrática de Alexis Tsipras que felicitou e recebeu o sucessor Kyriakos Mitsotakis no Palácio do Governo, apertando-lhe a mão, antes de sair, ao contrário do que lhe fez o seu antecessor, Antonis Samaras, também da Nova Democracia, de quem o novo PM foi ministro, que não só não o recebeu, como o seu staff levou canetas, blocos, sabonetes e até o código do WiFi da residência oficial.

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