2.8.19

A Sífilis está de regresso

Por Joaquim Letria
No tempo da minha juventude, a sífilis era uma espécie de praga negra. Toda a gente receava a terrível doença, os cuidados para contrariar a sua propagação eram extremos e os seus portadores quase que eram ostracizados. “Síflitico” era mesmo uma ofensa arremessada para ofender.
Também as doenças sexualmente transmitidas (hoje conhecidas como DST)  eram uma praga, ainda que a Direcção Geral de Saúde da época – refiro-me aos anos 50/60 – envidasse os maiores esforços em favor da saúde pública, exigindo, por exemplo, a inspecção sanitárias das prostitutas, cumprida semanalmente.
De qualquer modo, uma gonorreia não era nada que um médico de clínica geral, ou mesmo um farmacêutico amigo, não resolvesse com um par de injecções de penicilina, às vezes também com uma martelada no propriamente dito para expulsar a concentração pustulenta de que um aflito precisava de se libertar. Ao pé disto, uma camada de parasitas nos pelos púbicos, designada na maioria dos casos como uma camada de chatos, era uma prenda de natal.
A libertação sexual dos anos 60 e 70 que Deus Nosso Senhor protegeu nestes parâmetros das DST e o declínio da sífilis trouxeram uma grande felicidade à Humanidade, que assistia com orgulho e deleite à justa libertação sexual da mulher. Mas Deus zangou-se, ainda não sabemos hoje porquê, e trouxe-nos a praga da SIDA que dizimou milhões e trouxe a infelicidade e o medo à humanidade, exceptuando aos felizes produtores e vendedores de preservativos que enriqueceram e adoraram o comércio das camisinhas de Vénus — capotes anglais, como lhes chamam os franceses.
Mas a Ciência reagiu, e hoje o vírus do HIV não quer dizer que se vá ter SIDA ou sequer que se morra desta doença. E a Humanidade voltou a sorrir. Ainda nós começávamos a sorrir... e zás! Aí está a sífilis outra vez e outras pragas preocupantes, como o agravamento da hepatite C e outras graves doenças. Desta vez, a sífilis é mesmo uma epidemia grave, para esta não ser considerada uma doença do passado. 876% de manifestação de casos na Islândia e 224%  na Irlanda, e em geral na Europa, incluindo a Alemanha e os Países Baixos uma subida média superior a 80%. Os Estados Unidos também se incluem na expansão da sífilis e bate os records do crescimento do aparecimento da gonorreia, do cancro mole e da chlamidia.
Estes dados que aqui cito vêm do ECDC, o European Center for Protection and Disease Control, que vê os seus estudos mostrarem um futuro muito negro, para o qual atribui responsabilidades à prática do sexo pelas jovens gerações de forma promíscua, servindo-se de clubes de encontros na internet e tendo abandonado os cuidados do sexo seguro.
Deus tenha piedade de nós e nos deixe pecar um bocadinho…
Publicado no Minho Digital

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