«Think globally, act locally» - (*)
«Boas intenções com má informação é a receita certa para o desastre»
(Michael Crichton)
I - Recentemente, Veneza, sofreu mais uma das habituais inundações, desta vez de um valor recorde. “A culpa é do aquecimento global!” — sentenciou logo o pessoal do “pronto a pensar”. Talvez seja, mas, entretanto, continuarão a chegar à cidade os seus 30 milhões de turistas, muitos deles vindos em gigantescos navios de cruzeiro — dois dos quais, em menos de um ano, se “estamparam” contra terra-firme. Claro que não foram esses monstros que provocaram ESTA inundação, mas o certo é que não dão saúde nenhuma à cidade, afectando a terra, o mar e o ar de um ecossistema extremamente frágil. Mas o longo-prazo não preocupa os decisores e, felizmente para eles, as “alterações climáticas” têm as costas largas.
II – Aliás, e no que respeita ao Clima, as pessoas dividem-se entre as que NUNCA se preocuparam, as que SEMPRE se preocuparam, e as que acordaram AGORA para o problema. E se as primeiras são perigosas, a últimas, com o fanatismo cego dos recém-convertidos, desacreditam aquilo que, de facto, é um grave problema da Humanidade. E as pessoas mais primárias, para quem o mundo é a preto-e-branco, acantonam-se também em ESQUERDA e DIREITA, com as primeiras a jurar que a Terra está a aquecer, e as outras a garantirem que não — como se os dois grandes poluidores mundiais (os EUA e a R. P. China) não estivessem, precisamente, em polos opostos dessas opções políticas!
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III – Entretanto, o mundo ocidental tem andado entretido com uma adolescente sueca que se pode dar ao luxo de deixar de frequentar a escola para salvar o Planeta. Tudo bem, isso é lá com ela e com os respectivos pais, que têm posses para lhe oferecerem uma educação extra-escolar; e daí não vem mal ao mundo, desde que não contribua para difundir a ideia de que é isso que a juventude deve fazer, como o rapazinho que há dias dizia, entusiasmado com a sua “greve climática”: “Para quê estudar, se o Planeta vai acabar em 2030?”.
Não, meu amigo; para defenderes o Planeta, o caminho é exactamente o oposto: estudar, estudar muito, para não vires a ser como Santana Lopes que se GABOU na TV de não saber Física; nem como o cartunista que chora os — inexistentes! — pinguins do Alasca; nem como o jornalista que chamou CO2 ao vapor de água; nem como o que mostrou uma central nuclear, dando a entender que era o reactor nuclear de Sacavém — um brinquedo que caberia num T2; nem como Catarina Martins, para quem as barragens são prejudiciais porque, nelas, a água se evapora; nem como o “Jornal Económico”, que ainda este mês nos garantia que os “Habitantes do Tejo e Sado [estão] em risco de ficar debaixo de água” — quando esses HABITANTES são, tanto quanto se sabe, peixes e golfinhos...
E mais exemplos não dou, devido à limitação de espaço, mas é por essas e por outras que considero CRIMINOSO o caminho de facilitismo que está a ser seguido em Portugal, agora com o fim das retenções até ao 9.º ano, o que se vai pagar muito caro — só que a conta virá quando os responsáveis pelo descalabro já por cá não andarem.
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IV - Num filme cujo nome não recordo, a personagem principal é um pequeno-burguês que, fascinado com Allende, decide embarcar para o Chile a fim de participar na Revolução em curso. E a história termina com ele a correr, já atrasado para embarcar, furioso com uns quantos indivíduos que lhe estão a estorvar o caminho: por sinal, são operários franceses em luta, mas isso não lhe diz nada! Para ele, a Revolução é para fazer, sim, mas longe dali, com o mesmo espírito que leva muito boa gente a preocupar-se com a Amazónia, mas nem um pouco com as árvores da cidade onde mora.
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(*) – Neste contexto, pode dar-se a este velho ‘slogan’ o significado de “Pensa no Planeta, mas age sobre o que te rodeia”.
Etiquetas: CMR, Correio de Lagos
2 Comments:
Bem verdade CMR. Mas os tempos são estes... E estamos assim.
Porém, é agora e nestas circunstâncias que nos compete lutar para inverter a situação.
Uma crónica fantástica! “...a revolução, é para fazer,sim,mas longe dali, com o mesmo espírito que leva muito boa gente a preocupar-se com a Amazónia, mas nem um pouco com as árvores da cidade onde mora” Estas palavras dizem tudo sobre a nossa realidade.
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