Eu não dizia?
Por Joaquim Letria
Recordam-se de eu aqui pôr em causa aquelas declarações optimistas de que no fim da pandemia íamos todos ser bonzinhos uns para os outros? Bom, ainda estamos infelizmente longe do fim desta praga e reparem já nas asneiras que andamos a fazer sem respeito pelos outros nem pela respectiva segurança.
Só para não perdermos mais tempo vou aqui enumerar apenas alguns episódios demonstrativos do que acabo de dizer. Em Carcavelos, no Concelho de Cascais, mais de mil jovens tiveram de ser retirados do areal da respectiva praia onde bebiam, dançavam e escutavam juntos música que eles próprios faziam ouvir. Na zona das docas, em Lisboa, a PSP teve também de intervir para dispersar uma multidão de centenas de pessoas que ali organizavam a sua festa. Em várias praias da Arrábida, em Setúbal, novos exemplos.
No Campo da Carrasqueira, em Braga, a polícia também teve de dispersar mais de 200 pessoas. No vizinho Campo das Hortas igualmente teve de haver intervenção policial pelos mesmos motivos. No Porto, na Cordoaria, centenas de pessoas festejavam num ajuntamento. Vila de Conde também assistiu a idênticas manifestações irresponsáveis. Em Odiáxere, no Concelho de Lagos, no Algarve, uma festa no Salão Nobre do Clube Desportivo de Odiáxere já teve como resultado mais de 100 pessoas infectadas. A Direcção do Clube pede humildemente desculpa pelo sucedido, alega que foi enganada pelos organizadores, que alugaram o salão para uma festa de aniversário de 20 pessoas (limite máximo autorizado por lei) e que assistiu à invasão de mais de uma centena de pessoas. Diga-se, em abono da verdade, que foi a própria Direcção do Clube que chamou as autoridades para acabarem com a festa.
No meio disto tudo vemos o Presidente da República, o da Assembleia da República, os ministros da Educação e da Saúde e o presidente da Câmara de Lisboa baterem os pezinhos de contentes por irmos ser os senhorios da fase final da Champions. O chefe do Governo convida-nos a passear na Baixa de Lisboa como nunca a vimos e a fazermos compras.
Eu só pergunto onde a pandemia e nós vamos parar, com milhares de fanáticos a acompanharem as oito equipas que vêm jogar em Lisboa, mesmo que não lhes abram os estádios como já começam a dizer que pode bem acontecer. Será que esta gente não viu o que sucedeu em Nápoles, após a final da Taça de Itália, com milhares de “tiffosi” que só tinham visto o jogo pela televisão? E cá não vai acontecer a mesma coisa com os milhares de fanáticos desembestados sem controle a saírem dos aeroportos?
Sinceramente que não sei o que mais dizer, depois de me explicarem que a PSP não é repressiva, que se limita a ser didáctica. Nem uma multazinha, já que ninguém vai passar a noite no xilindró? Deus nos proteja, juntamente com os médicos, enfermeiras e técnicos de saúde que são os únicos em quem podemos confiar.
Publicado no Minho Digital
Etiquetas: JL
2 Comments:
Quanto aos prevaricadores:
"Como eles são tantos, não há que estremá-los por excelerem uns entre os outros, pelo que lhes chamamos simplesmente, e sem excelência, de bestas."
Camilo Castelo Branco in "Narcóticos"
E que tal as "actuações" do Sr. Primeiro Ministro e do Sr. Presidente da República, para anunciarem o princípio do desconfinamento? Apressaram-se a ir a um espectáculo no Campo Pequeno que, em boa verdade, nem devia ter sido autorizado como e muito bem, aconteceu no Porto. Quando o exemplo vem de cima, é muito difícil conter a turba.
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