Estado amoral
Por Carlos Barroco Esperança
O Ministério Público acusou um cidadão de assaltar clubes desportivos, escritórios de advogados, organismos públicos e a própria PGR, de violar correspondência e tentar extorquir, por chantagem, pingues quantias a troco da entrega dos roubos. Acusa-o de um total de 75 crimes que, a serem provados, transformam em perigoso delinquente o arguido que, aliás, foi detido durante um dilatado prazo.
A Justiça, durante a sua investigação, reconhece que há furtos que a beneficiam, que o assaltante pode continuar a atividade, em vez de delinquir por conta própria, ao serviço da Justiça, de modo legal, sob autorização judicial.
Quando a Justiça julgar vantajoso e a quem pretender, certamente com o compromisso de honra de só fazer assaltos a pedido e em exclusividade, o delinquente pode tornar-se polícia.
Por mais simpatia e interesse que os portugueses possam ter, e têm, pela perseguição de criminosos, e compreensão pelas dificuldades da investigação de determinados crimes, é difícil aceitar um delinquente, recrutado pelo Estado, para o combate à delinquência.
Sob pena de se passar a temer, por igual, polícia e ladrões, a confundir criminosos bons e criminosos maus, e investigação criminal com crimes para investigar, declaro a minha perplexidade e repulsa perante o que considero, de acordo com os meus padrões éticos, o comportamento amoral do Estado.
Sempre houve, e haverá, delinquentes cuja perseguição compete a polícias, magistrados e políticos, sem que estes não possam também passar a delinquir, mas seria insólito que fossem recrutados entre cadastrados ou lhes abrissem vaga em função de tal currículo.
Há quem se conforme com um Estado amoral, talvez a maioria. Eu não.
Etiquetas: CBE
2 Comments:
Respeito a sua opinião e a sua escrita que é sempre agradável.
Numa opinião pública difundida pela SIC a opinião do público é claramente contrária à sua.
Por mim sempre tive em apreço por grandes inteligências e é o caso.Há por aí muita gentinha bem colocada porque tem cartão e inteligência fraca.
Em Fevereiro sem ser vidente disse que COSTA ia arruinar o país mais uma vez. Basta olhar para Sizas e companhias que dizem e desdizem na maior das calmas.
Cumprimentos.
OPJJ:
Obrigado pelo seu comentário e a delicadeza com que sempre formula as divergências.
Quem, como eu, viveu em ditadura durante mais de 30 anos, aprecio sempre as divergências e aprendi com Voltaire que, mesmo que não concorde, tenho obrigação de defender o direito de expressão de todos.
Cumprimentos.
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